Diagnóstico diferencial das taquiarritmias de QRS estreito

As taquiarritmias são uma causa comum de palpitações e desconforto torácico, podendo impactar a qualidade de vida dos pacientes e, em alguns casos, representar risco à saúde. Entre essas arritmias, as taquiarritmias de QRS estreito se destacam por sua origem supraventricular e pela necessidade de uma abordagem sistemática para o diagnóstico correto.

Meu nome é Guilherme Adami, sou médico do esporte e professor, com experiência na interpretação de exames cardiológicos e no manejo de condições cardiovasculares em atletas e pacientes em geral. A eletrocardiografia é uma ferramenta essencial na prática clínica, e compreender os diferentes padrões das taquiarritmias pode ser decisivo para um tratamento adequado.

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Agora, vamos entender o que são as taquiarritmias de QRS estreito e como diferenciá-las de forma objetiva e eficiente.

Diagrama mostrando o fluxograma de diagnóstico das taquiarritmias de QRS estreito. O processo inicia avaliando se o ritmo é regular ou arrítmico. Se for arrítmico, verifica-se a presença de ondas P, diferenciando fibrilação atrial (FA), flutter típico e taquicardia atrial (TA). Para ritmos regulares, analisa-se a presença e a relação entre ondas P e QRS, classificando a arritmia em TRN, TJ, TA, TRAV ou Coumel.

O que são Taquiarritmias de QRS Estreito?

As taquiarritmias de QRS estreito são arritmias com frequência cardíaca superior a 100 bpm e complexos QRS menores que 120 ms no eletrocardiograma (ECG). Essas características indicam que a ativação ventricular ocorre de maneira normal pelo sistema de condução cardíaco, ou seja, a arritmia tem origem supraventricular (nos átrios ou no nó atrioventricular).

Elas podem ocorrer tanto em indivíduos saudáveis quanto em pacientes com cardiopatias estruturais, e os mecanismos fisiopatológicos mais comuns incluem:

  • Aumento do automatismo: células do átrio ou do nó AV disparam impulsos em frequência elevada.
  • Reentrada: um circuito elétrico anômalo permite a perpetuação do estímulo.
  • Atividade deflagrada: oscilações do potencial de membrana desencadeiam disparos repetitivos.

O correto diagnóstico dessas taquiarritmias é fundamental, pois cada uma tem uma abordagem terapêutica específica, desde manobras vagais e fármacos até procedimentos invasivos, como ablação por cateter.

Principais Taquiarritmias de QRS Estreito e Seus Critérios Diagnósticos

1. Taquicardia Atrial (TA)

A taquicardia atrial (TA) é uma arritmia supraventricular caracterizada por um foco ectópico nos átrios que gera impulsos a uma frequência entre 120 e 250 bpm. Pode ocorrer por aumento do automatismo, reentrada ou atividade deflagrada.

Critérios eletrocardiográficos:

  • Ritmo regular
  • Ondas P anormais em morfologia e eixo, diferentes das ondas P sinusais
  • Relação P:QRS de 1:1, exceto em bloqueios de condução atrioventricular
  • Intervalo PR variável, dependendo da origem do foco atrial

É uma arritmia que pode ser paroxística ou sustentada, sendo mais comum em pacientes com doenças pulmonares e insuficiência cardíaca.


2. Flutter Atrial (FLA)

O flutter atrial é uma taquiarritmia supraventricular causada por um circuito de reentrada macrorreentrante no átrio direito. A ativação atrial ocorre de forma rápida e organizada, com frequência entre 250 e 350 bpm.

Critérios eletrocardiográficos:

  • Ritmo atrial regular
  • Ondas “F” serrilhadas, melhor visualizadas em DII, DIII e aVF
  • Relação variável entre ondas F e QRS, geralmente conduzido a 2:1, 3:1 ou 4:1
  • QRS estreito quando há condução AV normal

Muitas vezes está associado a doença cardíaca estrutural, hipertensão ou pós-operatório de cirurgia cardíaca. Pode ser revertido com cardioversão elétrica, dependendo da estabilidade do paciente.


3. Fibrilação Atrial (FA)

A fibrilação atrial (FA) é a arritmia cardíaca sustentada mais comum e ocorre devido à ativação desorganizada dos átrios, resultando em perda da contração atrial eficaz.

Critérios eletrocardiográficos:

  • Ritmo irregularmente irregular
  • Ausência de ondas P definidas, substituídas por ondas fibrilatórias
  • Variação dos intervalos RR
  • QRS estreito, a menos que haja bloqueio de ramo pré-existente ou condução aberrante

Pacientes com FA têm maior risco de tromboembolismo, sendo frequentemente necessário o uso de anticoagulação.


Taquiarritmias Supraventriculares por Reentrada ou Condução Anômala

4. Taquicardia por Reentrada Nodal (TRN)

A taquicardia por reentrada nodal (TRN) é uma das taquiarritmias supraventriculares mais comuns, ocorrendo por um circuito reentrante dentro do nó atrioventricular, envolvendo vias rápidas e lentas.

Critérios eletrocardiográficos:

  • Ritmo regular, entre 140 e 250 bpm
  • QRS estreito
  • Onda P ausente ou retrógrada (aparecendo logo após o QRS em DII, DIII e aVF)
  • Intervalo RP curto (< 80 ms) na forma típica

Frequentemente ocorre em pacientes jovens e saudáveis e pode ser revertida com manobras vagais ou adenosina.


5. Taquicardia Juncional (TJ)

A taquicardia juncional (TJ) tem origem na região do nó atrioventricular ou adjacências, sem a necessidade de um circuito de reentrada.

Critérios eletrocardiográficos:

  • Ritmo regular, geralmente entre 100 e 180 bpm
  • Ausência de ondas P visíveis ou presença de onda P retrógrada
  • Intervalo PR curto quando a onda P está presente

Mais comum em pacientes pós-operatórios de cirurgia cardíaca, intoxicação digitálica e miocardite.


6. Taquicardia de Coumel (Taquicardia Mediada por Via Lenta – TPVL)

A taquicardia de Coumel, ou taquicardia mediada por via lenta, é um tipo raro de taquicardia reentrante atrioventricular que ocorre devido a uma via acessória com condução retrógrada.

Critérios eletrocardiográficos:

  • Ritmo regular, geralmente entre 120 e 200 bpm
  • QRS estreito
  • Ondas P retrógradas bem visíveis (RP longo, > 90 ms)
  • Pode apresentar padrão de bloqueio de ramo

É sensível à adenosina e ao bloqueio nodal, mas a cura definitiva ocorre com ablação da via acessória.


7. Taquicardia por Reentrada Atrioventricular (TRAV – Taquicardia Ortodrômica)

A taquicardia por reentrada atrioventricular (TRAV) ocorre quando um impulso utiliza o nó atrioventricular para condução anterógrada e uma via acessória para condução retrógrada, formando um circuito de reentrada.

Critérios eletrocardiográficos:

  • Ritmo regular, entre 150 e 250 bpm
  • QRS estreito na forma ortodrômica
  • Ondas P retrógradas, frequentemente visíveis logo após o QRS
  • Intervalo RP longo (> 90 ms)

A forma ortodrômica pode ser revertida com adenosina ou manobras vagais. A ablação da via acessória é frequentemente o tratamento definitivo.


Taquicardia Ventricular com Padrão de QRS Estreito

8. Taquicardia Ventricular Septal (TV Septal)

A taquicardia ventricular septal (TV septal) é uma exceção entre as taquicardias ventriculares, pois pode apresentar QRS relativamente estreito devido à sua origem próxima ao sistema de condução normal dos ventrículos.

Critérios eletrocardiográficos:

  • Ritmo regular, geralmente entre 120 e 180 bpm
  • QRS levemente alargado, mas pode ser estreito em alguns casos
  • Presença de dissociação atrioventricular ou complexos de fusão pode sugerir origem ventricular
  • Ondas P podem estar dissociadas dos QRS

Deve ser considerada quando há um paciente com história de cardiopatia estrutural ou infarto prévio.

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