A taquicardia por reentrada nodal (TRN) é uma das formas mais comuns de taquicardia supraventricular paroxística (TSVP). Caracteriza-se por episódios súbitos de palpitação e geralmente acomete mulheres jovens, com bom prognóstico na ausência de cardiopatia estrutural. Seu reconhecimento no eletrocardiograma (ECG) e manejo adequado são fundamentais na prática clínica.
Características Eletrocardiográficas da TRN
O eletrocardiograma de repouso durante o episódio é a principal ferramenta diagnóstica. As principais características incluem:
- Ritmo RR regular
- Ondas P sobrepostas ao QRS ou logo após este
- Intervalo RP menor que 70 ms
- Possíveis achados adicionais:
- Pseudo-S em DII, DIII e aVF
- Pseudo-R em V1
Essas alterações refletem a ativação simultânea dos átrios e ventrículos durante o circuito de reentrada no nó atrioventricular.
Quadro Clínico
Os sintomas da TRN são geralmente benignos e autolimitados, embora causem desconforto significativo ao paciente:
- Palpitação súbita e intensa
- Sensação de “batimento no pescoço” (sinal do “frog”), causada pela contração atrial simultânea com a ventricular
- Mais comum em mulheres entre 30 e 50 anos
- Raramente cursa com instabilidade hemodinâmica ou síncope
- Prognóstico excelente na ausência de cardiopatia estrutural
Fisiopatologia da TRN
A base da TRN é a presença de dupla via nodal dentro do nó atrioventricular:
- Via rápida: conduz rapidamente, mas tem período refratário mais longo
- Via lenta: conduz lentamente, com recuperação mais rápida
Durante uma extrassístole atrial precoce:
- A via rápida ainda está refratária
- O impulso desce pela via lenta
- Ao atingir os ventrículos, sobe pela via rápida, que já recuperou a condução
- Esse circuito cria uma reentrada nodal contínua, gerando a taquicardia
Variante: TRN Incomum
Em uma variante menos comum:
- O impulso desce pela via rápida
- Sobe pela via lenta
- O intervalo RP torna-se mais longo, dificultando o diagnóstico no ECG
Tratamento Agudo da TRN
O objetivo no manejo agudo é interromper o circuito de reentrada:
1. Manobras vagais
- Primeiro passo no atendimento emergencial
- Incluem manobra de Valsalva, imersão facial em água fria ou massagem do seio carotídeo (com precauções)
2. Adenosina
- Dose inicial: 6 mg IV em bolus rápido
- Se necessário: repetir com 12 mg
- Preferência por acesso braquial com elevação do braço
- Pode causar efeitos transitórios como rubor, desconforto torácico ou ansiedade
3. Medicações EV em caso de falha
- Beta-bloqueadores IV (ex: metoprolol)
- Bloqueadores dos canais de cálcio IV (verapamil ou diltiazem)
Tratamento Crônico
O manejo de longo prazo visa reduzir recidivas e melhorar a qualidade de vida.
1. Beta-bloqueadores
- Propranolol: 80–240 mg/dia (dividido em até 3 tomadas)
- Atenolol: 25–100 mg/dia (dose única)
- Metoprolol succinato: 25–200 mg/dia
2. Bloqueadores dos canais de cálcio
- Verapamil: 360–480 mg/dia
- Diltiazem: 120–360 mg/dia
3. Outras opções em casos refratários
- Propafenona: 300–900 mg/dia (dividido em 3 tomadas)
- Sotalol: 160–320 mg/dia
- Amiodarona: 200–600 mg/dia
- Considerar somente em casos refratários com contraindicação a outras opções
Ablação por Cateter
A ablação com radiofrequência é o tratamento definitivo e curativo na maioria dos casos.
Indicações:
- Falha ou recidiva com tratamento medicamentoso
- Intolerância a efeitos adversos das medicações
- Preferência do paciente por eliminar a arritmia sem uso crônico de medicamentos
A taxa de sucesso da ablação da TRN ultrapassa 95%, com baixo risco de complicações quando realizada por equipe experiente.
Considerações Finais
A taquicardia por reentrada nodal é uma arritmia supraventricular comum, de evolução benigna, mas que impacta significativamente a qualidade de vida dos pacientes. O diagnóstico clínico e eletrocardiográfico é essencial para o tratamento adequado. Em casos sintomáticos frequentes ou refratários, a ablação por cateter representa uma solução curativa segura e eficaz.
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