Esteróides anabólicos androgênicos são medicações que vêm sendo utilizadas há décadas para uma série de condições clínicas, historicamente sido utilizada para o tratamento de condições que vão desde osteoporose até caquexia, por exemplo.
Entretanto, esse tipo de medicação possui a característica de se ligar sem restrições aos nossos receptores androgênicos. Por conta disso, o paciente usuário de EAAs pode sofrer com uma série de efeitos colaterais, como por exemplo alterações de humor, dislipidemia, aumento de hematócrito e até mesmo alterações prostáticas.
Diante disso, recentemente uma nova categoria de medicações chamada de SARMs foi desenvolvida com a promessa de conseguir atuar de forma seletiva nos receptores de androgênio, sendo capaz de estimular predominantemente o músculo esquelético, sem atuar em receptores presentes na próstata ou células hematológicas, por exemplo.
Diante dessa promessa, uma série de pessoas passaram a utilizar esse tipo de medicação com o intuito de obter ganhos de massa muscular, com a ideia de estar livre do risco de efeitos colaterais dos EAAs. Mas será que isso realmente faz sentido?
Para responder essa pergunta, primeiramente precisamos compreender que dezenas de SARMS foram desenvolvidos nas últimas décadas, entretanto, apenas 2 ou 3 desses realmente conseguiram se mostrar seguros o suficiente para serem testados em humanos.
Dentre aqueles que chegaram a testes clínicos, o Ligandrol (LGD-4033) e o Ostarine (Enobosarm) foram os mais promissores. Sabendo disso, quero te apresentar dois estudos feitos em humanos com essas medicações.
O primeiro estudo que discutiremos, foi realizado com 76 homens saudáveis que consumiram 1 mg por dia de ligandrol vs placebo, por 21 dias. Esse estudo buscou avaliar qual seria o papel dessa medicação na mudança de composição corporal e em alguns padrões gerais de saúde. O estudo evidenciou um aumento de em média 1,2 Kg de massa muscular nessa população, sem alteração da massa gorda. Entretanto, mesmo com a utilização por um curto período de tempo, houve a inibição da produção endógena de testosterona e diminuição do HDL.
Já outro estudo realizado com o Ostarine, buscou avaliar a efetividade dessa medicação no combate da caquexia. Para isso, foi avaliado um grupo de 159 pacientes com câncer por um período de até 113 dias, utilizando diariamente doses diárias entre 1 e 3mg da medicação. Após esse período de quase 4 meses, os pacientes apresentaram um ganho médio de 1,25 kg de massa magra em relação ao placebo. Nesse pequeno estudo não foram identificados efeitos colaterais da medicação.
Vale ressaltar que os estudos com SARMs são muito pequenos e com conclusões extremamente limitadas. Apesar disso, os dados preliminares dos trials que te apresentei e de outros que vêm sendo realizados, nos mostram que o potencial anabólico dos SARMs é cerca de um quarto dos esteróides convencionais utilizados atualmente.
Além disso, os efeitos colaterais de curto e especialmente longo prazo dessas medicações são extremamente especulativos, com poucas evidências até o momento. Sendo assim, não existe segurança clínica para prescrição dessas medicações.
Por fim, é necessário relembrar que atualmente é proibida a comercialização de SARMs fora de um ambiente de pesquisa. Sendo assim, toda medicação vendida como SARM é automaticamente do mercado paralelo. Só para se ter uma ideia desse risco, um estudo que avaliou a composição de 44 dessas medicações comercializadas, identificou que 60% delas eram falsas.
Diante de tudo isso, fica claro que até o momento os SARMS são caros, com grande potencial de riscos. Sabendo disso, o que você pensa sobre a utilização dos SARMs?
Referências