Suplementação de Nitrato: Você Sabe Prescrever esse Suplemento?
Você já ouviu falar sobre a suplementação de nitrato e seu potencial para melhorar a performance esportiva? Neste post, vamos explorar em detalhes quais são os benefícios e como deve ser feita a suplementação desse nutriente. Inicialmente, devemos entender que o nitrato é um composto químico naturalmente encontrado em diversos alimentos, como em vegetais folhosos (couve, alface e espinafre), e especialmente na beterraba. No organismo, o nitrato é convertido em óxido nítrico, uma substância que desempenha papéis vitais em nossa fisiologia. O óxido nítrico, resultante do metabolismo do nitrato, atua como vasodilatador, influenciando a função muscular ao regular o fluxo sanguíneo, contratilidade muscular, glicose, cálcio, homeostase e até mesmo biogênese mitocondrial. Diante dessa complexa atuação, o aumento dos níveis de óxido nítrico nos tecidos e circulação periférica melhora o transporte e captação de oxigênio pelos músculos, aumentando o desempenho durante o exercício. Como resultado, a suplementação de nitrato pode melhorar a eficiência do sistema cardiovascular, aumentando a capacidade de exercício, o tempo até a exaustão e a distância percorrida, reduzindo o “custo” de oxigênio durante o esporte. Diante disso, a sua suplementação beneficia especialmente modalidades que demandam resistência, como corrida, ciclismo e alguns esportes em grupo, como futebol, por exemplo. Para compreender melhor quais parâmetros se beneficiariam com o uso desse suplemento, quero te apresentar os resultados de uma metanálise publicada no ano passado. Segundo o estudo, os participantes que utilizaram a suplementação de nitrato experimentaram um aumento na produção de energia, uma redução significativa no VO2, além de um aumento no tempo até a exaustão e na distância percorrida. Esses achados destacam os efeitos positivos do nitrato na otimização do desempenho esportivo. A suplementação de nitrato pode ser realizada tanto de forma aguda quanto crônica para melhorar a performance esportiva. No uso agudo, é recomendado ingerir uma dose entre 8 e 16 mmol de nitrato de 2 a 4 horas antes do exercício. Já na suplementação crônica, a dose diária varia de 4 a 16 mmol. É importante ressaltar que ainda não está bem estabelecido se o uso crônico oferece resultados superiores à ingestão aguda. Existem poucas opções comerciais de suplementos de nitrato disponíveis no mercado. Diante disso, geralmente, a beterraba é escolhida como a forma mais acessível de realizar a suplementação. Em média, a beterraba contém cerca de 1-2 mmol de nitrato a cada 100 gramas. Portanto, para atingir uma dose ergogênica de nitrato, seria necessário consumir aproximadamente 400 gramas de beterraba. Você já realizou esse tipo de suplementação em sua prática clínica? Compartilhe aqui embaixo quais foram os resultados que você observou. Referências https://doi.org/10.1186/s12970-021-00450-4https://doi.org/10.1007/s40279-022-01701-3
Suplementos promissores para o tratamento da síndrome dos ovários policísticos (SOP)
Você sabia que a Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP) afeta cerca de 10% das mulheresem idade reprodutiva? Apesar de comum, essa é uma doença extremamente complexa que cursa com alteraçõesmenstruais, androgênicas, metabólicas e até infertilidade. Sua etiologia combina fatoresgenéticos e ambientais, necessitando de mudanças comportamentais para um tratamentoadequado. Associado às mudanças de estilo de vida, alguns suplementos vêm se mostrando promissoresno controle dos sintomas e alterações metabólicas. Se você ou alguém próximo sofre com essacondição, continue lendo para descobrir alguns suplementos que vem sendo estudados paraajudar no tratamento dos sintomas e melhorar a qualidade de vida! Myo-inositol Uma metanálise que avaliou 10 estudos com uma amostra de 573 pacientes mostrou que o usode myo-inositol na dose de até 4g dia em relação ao placebo pode ajudar a regular os níveis deinsulina, associado a isso, outra metanálise publicada em 2021 mostrou que esse suplementoainda teria efeito positivo na diminuição do colesterol, e dos sintomas de excesso androgênicoem mulheres com SOP. Já em relação a melhora da fertilidade, uma metanálise publicada pelaCochrane mostrou que não existem evidências até o momento. Curcumina Uma metanálise publicada que avaliou uma série de estudos randomizados encontrou dadosconsistentes que a curcumina na dose de 500mg até 3 vezes ao dia foi capaz de diminuir ocolesterol total e perfil glicêmico, incluindo níveis de glicose de jejum, nível de insulina eHOMA-IR. Vitamina E e Coenzima Q10 (CoQ10) Uma metanálise que avaliou múltiplos suplementos no tratamento da SOP encontrou que asuplementação de Vitamina E na dose de 400 UI pode melhorar tanto o perfil hormonal, quantoo metabólico das pacientes com SOP. Além disso, a vitamina E foi o suplemento analisado commaior redução de testosterona total e aumento de SHBG.Esse mesmo estudo mostrou ainda que a CoQ10 na dose de 200mg sozinha ou combinadacom a vitamina E também pode ser útil para diminuir o HOMA-IR. Canela Para finalizar, uma metanálise que avaliou 289 mulheres encontrou que a utilização de canelana dose de até 1,5g por dia foi capaz de reduzir significativamente o HOMA-IR e níveis deglicose dessas mulheres. Para concluir, é importante lembrar que os suplementos mencionados são promissores notratamento da SOP, mas não substituem a prática regular de atividade física e uma alimentaçãosaudável e equilibrada. Além disso, é fundamental que qualquer tratamento seja acompanhadoe orientado por um profissional de saúde capacitado. Gostou das informações? Compartilhe com seus amigos que também possam se beneficiardeste conteúdo! Referências DOI 10.1007/s12020-017-1442-yDOI: 10.1002/14651858.CD012378.pub2.https://doi.org/10.1080/09513590.2021.1926975DOI: 10.1002/ptr.7274DOI: 10.1111/jfbc.13543
Semaglutida oral pode ser usada para o tratamento da obesidade?
A semaglutida oral tem despertado interesse como potencial tratamento para a obesidade, abrindo um novo caminho na área médica. Este composto, um análogo do peptídeo-1 semelhante ao glucagon (GLP-1), tem como alvo os receptores GLP-1, que são cruciais na regulação do apetite, controle glicêmico e metabolismo energético. A versão subcutânea da semaglutida, conhecida como Ozempic, já é amplamente usada no tratamento da obesidade, mas surge agora a questão: será que a forma oral da semaglutida também é eficaz para este propósito? Para explorar essa possibilidade, pesquisadores conduziram um estudo robusto, duplo-cego, randomizado e de fase 3, focando no uso da semaglutida oral na dose de 50 mg diariamente. O estudo incluiu participantes sem diabetes, com Índice de Massa Corporal (IMC) igual ou superior a 30 kg/m², ou com IMC de pelo menos 27 kg/m², mas com complicações relacionadas ao peso e comorbidades. Os resultados foram notáveis, apontando para uma nova abordagem terapêutica no tratamento da obesidade. Os participantes que receberam a semaglutida oral tiveram uma redução média de peso significativa, cerca de -15,1% em relação ao seu peso inicial, em contraste com apenas -2,4% no grupo que recebeu placebo. Além disso, um número maior de participantes tratados com semaglutida conseguiu alcançar reduções de peso substanciais de pelo menos 5%, 10%, 15% e até 20%, superando significativamente o grupo placebo. É importante ressaltar que a semaglutida oral foi bem tolerada pelos participantes do estudo. Apesar de alguns eventos adversos terem sido relatados, a maioria foi de natureza gastrointestinal e classificados como leves a moderados. Contudo, é crucial observar que as doses de semaglutida disponíveis comercialmente no Brasil são de até 14 mg, enquanto no estudo clínico foi utilizada uma dose de 50 mg. Essa diferença de dosagem é um fator importante a ser considerado na avaliação dos resultados e na aplicação prática. Diante dessas descobertas, fica a questão: qual é o potencial real dessa medicação no tratamento da obesidade em pacientes? Convido a discussão e reflexão sobre o impacto desses resultados no campo da medicina. Compartilhe sua opinião e experiências sobre esse estudo nos comentários abaixo! Referências https://doi.org/10.1016/S0140-6736(23)01185-6
Hipotireoidismo gera ganho de peso?
A falta de hormônios tireoidianos (hipotireoidismo) é popularmente considerada como uma causa de aumento de peso e até mesmo de obesidade. Mas será que isso realmente é verdade? E caso seja, até que ponto o hipotireoidismo colabora com o aumento do peso? Para começar a responder a essa pergunta, quero apresentar um estudo que avaliou o gasto calórico diário de indivíduos com hipotireoidismo antes e um ano após o tratamento com levotiroxina. Através da análise com calorimetria indireta, o estudo encontrou um aumento médio do gasto energético em 215 kcal/24h nos indivíduos tratados, o que, teoricamente, representaria um aumento de quase 9 quilos por ano. Entretanto, ao analisar a composição corporal pré e pós 1 ano de tratamento, os pesquisadores observaram uma perda média de 4,3 kg, sendo que, para a surpresa de todos, a maior parte desse peso não foi de gordura, mas sim de retenção líquida, possivelmente explicada pela correção do mixedema presente nos pacientes com hipotireoidismo. Diante disso, vemos que na prática, apesar do hipotireoidismo diminuir o gasto calórico diário, está associado a um aumento relativamente discreto do peso. Para entender de forma mais adequada o papel do hipotireoidismo no aumento do peso, devemos analisar se os indivíduos com hipotireoidismo, tratados adequadamente, apresentariam alterações em seu peso. Para responder a essa pergunta, uma ótima forma é avaliarmos se os pacientes que realizaram uma tireoidectomia total apresentaram alterações em seu peso após o tratamento. Para isso, quero apresentar um estudo retrospectivo que avaliou a variação do peso de 107 pacientes que realizaram tireoidectomia total e realizavam reposição de hormônio tireoidiano para alcançar um estado eutireoideo. Após a avaliação dos pesquisadores, ficou evidenciado que pacientes que realizaram tireoidectomia total, portanto, com hipotireoidismo, não apresentaram alterações significativas em seu peso quando tratados de forma adequada após um ano de tratamento. Em conclusão, embora o hipotireoidismo possa diminuir o gasto calórico diário, ele não é uma causa direta de obesidade, podendo causar um discreto aumento do peso, especialmente devido a retenção de líquidos. E você, já sabia do papel do hipotireoidismo na alteração do peso? Comenta aqui o que achou do conteúdo! Referências doi: 10.1111/ans.14421 doi:10.1210/jc.2010-1521
Como manejar o Hipotireoidismo Gestacional?
Na gestação, alterações hormonais, especialmente o aumento do HCG, podem estimular o eixo hipotálamo-hipófise-tireóide, resultando em menores concentrações de TSH, tornando assim o diagnóstico do hipotireoidismo gestacional um desafio. Caso seja manejado de forma inadequada, essa condição apresenta riscos sérios, desde aborto até complicações como pré-eclâmpsia e descolamento prematuro de placenta, sendo essencial realizar um rastreio adequado. Diante disso, é recomendado que esse rastreio seja realizado em todas as gestantes, idealmente dosando o TSH no início do primeiro trimestre de gestação. Consideramos normais os valores menores que 2,5 mUI/L. Durante a gestação, o valor de TSH para diagnóstico de hipotireoidismo é acima de 4,0 mUI/L. Valores entre 4,0 e 10,0 mUI/L diagnosticam o hipotireoidismo, porém ainda se faz necessário a solicitação do T4L para complementar a investigação. Caso o T4L se encontre em níveis normais, temos o diagnóstico de hipotireoidismo subclínico (HSC); caso se encontre abaixo dos valores de referência, o diagnóstico é de hipotireoidismo clínico (HC). Os casos de hipotireoidismo subclínico requerem tratamento com levotiroxina (LT4) em dose inicial de 1 mcg/kg/dia. Já no hipotireoidismo clínico, a dose inicial é de 2 mcg/kg/dia. Caso o TSH se encontre entre 2,5 e 4,0 mUI/L, o caminho é um pouco diferente. Devemos realizar a dosagem do ANTI-TPO. Caso esteja positivo, devemos tratar com 50 mcg/dia de levotiroxina, caso negativo, não é necessário tratamento. Você já conhecia esse fluxograma de manejo do hipotireoidismo gestacional? Então comente aqui embaixo o que achou deste conteúdo! Referências: FEBRASGO POSITION STATEMENT: Rastreio, diagnóstico e manejo do hipotireoidismo na gestação.
Qual a melhor estratégia para manter a perda de pesos em indivíduos obesos?
Manter a perda de peso alcançada após um período de dieta hipocalórica é um dos grandes desafios de quem sofre de sobrepeso ou obesidade. É muito comum que após uma diminuição acentuada do percentual de gordura, ocorra um reganho muitas vezes até mesmo superior a queda inicial, situação popularmente chamada de efeito sanfona. É fato que a melhor estratégia de diminuição e manutenção de peso é a utilização de uma dieta hipocalórica. Entretanto, na prática observamos que se manter nessa condição por longos períodos é um grande desafio para alguns pacientes! Sabendo disso, Lunddrgren e sua equipe decidiram elaborar um ensaio clínico randomizado em um grupo de indivíduos obesos que passaram por um processo de grande redução de peso. Os pesquisadores selecionaram um grupo de 195 indivíduos que após 8 semanas de dieta hipocalórica haviam perdido em média 13,1 Kg. A partir disso, compararam algumas estratégias a fim de avaliar quais seriam as mais eficazes na manutenção desse peso ao longo de um ano. Os pesquisadores dividiram os voluntários em 4 grupos: O primeiro grupo seria estimulado a realizar um programa de treinamentos de moderada intensidade em média 3x por semana. O segundo grupo utilizaria Liraglutida até a dose máxima de 3 mg por dia. O terceiro grupo, realizaria a combinação terapêutica de medicação e exercícios. Já o quarto grupo, seria submetido a medicação placebo sem intervenções adicionais. Vale ressaltar que todos os grupos foram submetidos a 12 consultas ao longo de um ano, onde foi fornecido suporte dietético. Durante um ano de intervenção, os pesquisadores analisaram mensalmente uma série de fatores a fim de compreender quais ações haviam sido mais efetivas na manutenção do peso! O grupo placebo, ou seja, que se manteve apenas com a dieta, teve um reganho médio de cerca de 6,1Kg ao longo de um ano, evidenciando a dificuldade da manutenção do peso em indivíduos que utilizam apenas a dieta como medida de manutenção do seu peso. Os indivíduos que praticaram exercícios físicos após um ano apresentaram um reganho de 2Kg, entretanto, houve uma redução adicional de cerca de 1,8% de gordura. Ou seja, esse ganho de peso se referiu na verdade ao ganho de massa muscular e não de gordura. Já o grupo Liraglutida apresentou uma queda adicional de 0,7Kg, com uma diminuição de 1,6% no percentual de gordura. Sendo assim, apesar da medicação gerar uma maior diminuição de peso, a prática de exercícios físicos se mostrou mais efetiva que a Liraglutida na redução do percentual de gordura no longo prazo. Por fim, os indivíduos que praticaram atividade física associada a utilização de Liraglutida apresentaram uma queda adicional de 3,4 Kg e -3,5% de gordura. A partir dos dados observados, fica evidente que apenas orientações dietéticas não são efetivas na manutenção da perda de peso na grande maioria dos indivíduos obesos. Sendo assim, terapias adjuvantes devem ser utilizadas nessa população. Entretanto, como evidenciado pelo trabalho, medicações não são a única medida efetiva para esse processo, apenas a prática de atividade física já se mostrou eficaz na manutenção da composição corporal! Comenta aqui embaixo o que você achou desse estudo! Referências DOI: 10.1056/NEJMoa2028198
Beta-hydroxy-beta-methylbutyrate (HMB) gera hipertrofia?
Beta-hydroxy-beta-methylbutyrate, também chamado de HMB, é um metabólito da leucina, um dos aminoácidos essenciais, comercializado como suplemento alimentar com o intuito de aumento de massa magra e diminuição do percentual de gordura. Estudos nos mostram que ele possui ação no aumento da integridade da membrana celular dos miócitos, além de reduzir a degradação da proteína dos músculos. Além disso, estudos recentes mostram que esse suplemento atua também no aumento do IGF1 e MTOR quinase, mecanismos fundamentais para a hipertrofia muscular. Diante de seu mecanismo de ação, surge a pergunta, o HMB pode entrar como uma estratégia na suplementação de indivíduos que desejam melhora da composição corporal? Para responder a essa pergunta, Brett e sua equipe realizaram uma metánalise avaliando o efeito do uso diário de 3g/dia de HMB em indivíduos jovens treinados. Para o desapontamento daqueles que utilizam esse suplemento, o grupo de pesquisadores concluíram que ele não tem efeito no ganho de massa muscular. Já em relação ao percentual de gordura, se observou uma tendência de diminuição discreta, porém sem significância estatística. Apesar dos benefícios em atletas não se terem comprovado, Hongmei Wu e sua equipe decidiram realizar uma metánalise avaliando uma população diferente. Os pesquisadores analisaram uma série de estudos que selecionou idosos, portadores ou não de doenças incapacitantes para o teste. O estudo mostrou que a suplementação de HMB na dose de 3g/dia foi efetivo em relação ao placebo em preservar a massa muscular dessa população. Diante dos dados levantados os pesquisadores concluíram que a suplementação de HMB pode ser útil na prevenção da atrofia muscular induzida por exemplo pelo repouso no leito. Diante desse dado, Javier e equipe decidiram avaliar uma nova variável. Idosos, submetidos a um programa de exercício físico, associado ou não a HMB, poderiam apresentar um ganho pelo uso desse suplemento? Para responder a essas perguntas, o grupo de pesquisadores realizou uma nova metánalise, comparando agora dois grupos: Agora, todos os indivíduos analisados eram idosos submetidos a um programa de exercícios físicos, dividindo-os em grupo controle e em uso de HMB. Os resultados encontrados pelos pesquisadores foram de que a suplementação de HMB não gerou uma melhoria superior ao exercício físico isolado em nenhum dos desfechos analisados. Diante disso, ficou concluído que o uso de HMB é proveitoso apenas naqueles indivíduos que não estão aptos a praticar programas de treinamento físico, como idosos acamados, por exemplo. A partir dessa série de estudos, fica evidente que o HMB pode ser utilizado como terapêutica complementar em indivíduos que por questões de saúde não podem praticar atividades físicas. Entretanto, ficou evidente que em praticantes de musculação, não existe indicação de uso dessa suplementação. Referências DOI: 10.1519/JSC.0000000000003461 DOI: 10.2478/hukin-2019-0070 DOI: 10.3390/nu11092082 DOI: 10.1016/j.archger.2015.06.020
SARMs são medicamentos seguros? Venha conhecer as evidências!
Esteróides anabólicos androgênicos são medicações que vêm sendo utilizadas há décadas para uma série de condições clínicas, historicamente sido utilizada para o tratamento de condições que vão desde osteoporose até caquexia, por exemplo. Entretanto, esse tipo de medicação possui a característica de se ligar sem restrições aos nossos receptores androgênicos. Por conta disso, o paciente usuário de EAAs pode sofrer com uma série de efeitos colaterais, como por exemplo alterações de humor, dislipidemia, aumento de hematócrito e até mesmo alterações prostáticas. Diante disso, recentemente uma nova categoria de medicações chamada de SARMs foi desenvolvida com a promessa de conseguir atuar de forma seletiva nos receptores de androgênio, sendo capaz de estimular predominantemente o músculo esquelético, sem atuar em receptores presentes na próstata ou células hematológicas, por exemplo. Diante dessa promessa, uma série de pessoas passaram a utilizar esse tipo de medicação com o intuito de obter ganhos de massa muscular, com a ideia de estar livre do risco de efeitos colaterais dos EAAs. Mas será que isso realmente faz sentido? Para responder essa pergunta, primeiramente precisamos compreender que dezenas de SARMS foram desenvolvidos nas últimas décadas, entretanto, apenas 2 ou 3 desses realmente conseguiram se mostrar seguros o suficiente para serem testados em humanos. Dentre aqueles que chegaram a testes clínicos, o Ligandrol (LGD-4033) e o Ostarine (Enobosarm) foram os mais promissores. Sabendo disso, quero te apresentar dois estudos feitos em humanos com essas medicações. O primeiro estudo que discutiremos, foi realizado com 76 homens saudáveis que consumiram 1 mg por dia de ligandrol vs placebo, por 21 dias. Esse estudo buscou avaliar qual seria o papel dessa medicação na mudança de composição corporal e em alguns padrões gerais de saúde. O estudo evidenciou um aumento de em média 1,2 Kg de massa muscular nessa população, sem alteração da massa gorda. Entretanto, mesmo com a utilização por um curto período de tempo, houve a inibição da produção endógena de testosterona e diminuição do HDL. Já outro estudo realizado com o Ostarine, buscou avaliar a efetividade dessa medicação no combate da caquexia. Para isso, foi avaliado um grupo de 159 pacientes com câncer por um período de até 113 dias, utilizando diariamente doses diárias entre 1 e 3mg da medicação. Após esse período de quase 4 meses, os pacientes apresentaram um ganho médio de 1,25 kg de massa magra em relação ao placebo. Nesse pequeno estudo não foram identificados efeitos colaterais da medicação. Vale ressaltar que os estudos com SARMs são muito pequenos e com conclusões extremamente limitadas. Apesar disso, os dados preliminares dos trials que te apresentei e de outros que vêm sendo realizados, nos mostram que o potencial anabólico dos SARMs é cerca de um quarto dos esteróides convencionais utilizados atualmente. Além disso, os efeitos colaterais de curto e especialmente longo prazo dessas medicações são extremamente especulativos, com poucas evidências até o momento. Sendo assim, não existe segurança clínica para prescrição dessas medicações. Por fim, é necessário relembrar que atualmente é proibida a comercialização de SARMs fora de um ambiente de pesquisa. Sendo assim, toda medicação vendida como SARM é automaticamente do mercado paralelo. Só para se ter uma ideia desse risco, um estudo que avaliou a composição de 44 dessas medicações comercializadas, identificou que 60% delas eram falsas. Diante de tudo isso, fica claro que até o momento os SARMS são caros, com grande potencial de riscos. Sabendo disso, o que você pensa sobre a utilização dos SARMs? Referências 10.1016/S1470-2045(13)70055-X 10.1093/gerona/gls078
Você já ouviu falar da síndrome MOSH?
A produção de testosterona é controlada a partir do que chamamos de eixo Hipotálamo-Pituitária-Testículo (eixo HPT). Em indivíduos normais, o hipotálamo atua produzindo um hormônio chamado de GnRH o qual estimula a hipófise a produzir de LH e FSH. Esses dois hormônios, por sua vez, atuam diretamente no testículo estimulando a produção de testosterona e espermatozoides. Em situações em que o hipogonadismo é causado por uma disfunção testicular, temos aquilo que chamamos de hipogonadismo primário. Por sua vez, caso exista algum fator externo ao testículo inibindo a produção de GnRh ou LH, desenvolvemos um quadro de hipogonadismo secundário. A síndrome MOSH também chamada de Male Obesity Associated Secondary Hypogonadism nada mais é do que uma condição clínica em que o homem desenvolve um quadro de hipogonadismo secundário ao quadro de obesidade. A fisiopatologia que explica essa condição é extremamente complexa e envolve uma série de vias metabólicas. Até pouco tempo atrás, acreditava-se que a causa principal desse distúrbio fosse devido ao excesso de gordura aumentar a conversão de testosterona em estrogênio; e, com isso, o aumento do estrogênio realizar uma inibição do eixo HTP. Apesar de esse mecanismo fazer parte da fisiopatologia da doença, sabemos hoje que outros fatores contribuem com a gênese da síndrome. Como por exemplo, pacientes obesos apresentam um aumento de um hormônio chamado de leptina, a qual age inibindo a pulsatilidade do hormônio LH; e, por consequência, diminui a produção de testosterona. Além disso, outros mecanismos envolvendo a diminuição da ligação do SHBG fazem parte do quadro. Sendo assim, o homem com síndrome de MOSH apresenta um quadro de hipogonadismo secundário (ou seja, testosterona e LH baixos) associado a obesidade. Um ponto que deve ser destacado nessa doença, é que em boa parte dos casos o quadro de hipogonadismo pode ser totalmente revertido com a perda de peso. Sendo assim, frente a esse diagnóstico, além de tratarmos incialmente o quadro com testosterona ou mesmo clomifeno, o início de uma dieta adequada associada a treinamento físico é algo fundamental, uma vez que essas medidas contribuirão com a resolução do fator causal da patologia. Você já tinha ouvido falar dessa síndrome? Então comenta aqui embaixo o que achou do post! Referências 10.1038/s41366-018-0105-2 10.1530/EJE-21-0473 10.1530/EJE-12-0955
A Levedura de Arroz Vermelho pode substituir as estatinas?
Atualmente os medicamentos mais utilizados em pacientes com altos níveis de LDL são as estatinas, como a sinvastatina ou rosuvastatina, por exemplo. Apesar de ser um tratamento seguro, o uso dessas medicações está relacionado a casos frequentes de mialgia além de aumento de marcadores de lesão hepática como TGO e TGP, por exemplo. Pensando nisso, uma série de compostos alternativos vêm sendo estudados para utilização no tratamento de pacientes com LDL elevado. Dentre essa esses compostos, temos a Levedura de Arroz Vermelho como uma daquelas com maior potencial terapêutico. Ensaios clínicos e metanálises já nos mostraram que essa alternativa é eficaz em diminuir os níveis de LDL, mas surge o questionamento: A levedura de Arroz vermelho é capaz de diminuir o risco cardiovascular, assim como as estatinas? Para responder a essa pergunta, Sungthong e sua equipe elaboraram uma metanálise que revisou uma série de estudos que avaliaram a eficácia da levedura de arroz vermelho na dose de 1200 mg/dia em diminuir desfechos cardiovasculares em pacientes pós IAM com hipercolesterolemia limítrofe. A conclusão do estudo foi que além de diminuir os níveis de LDL, a suplementação também foi capaz de diminuir a incidência de eventos e do risco cardiovascular. Sabendo que a levedura de arroz vermelho vem se provando eficaz, surge a necessidade de avaliar se o seu uso é também seguro; e, além disso, compreender se os efeitos adversos são menores que os encontrados nas estatinas. Para encontrar essa resposta, Fogaccia e sua equipe avaliaram em sua meta-análise 53 ensaios clínicos com uma amostra de mais de 8.500 pacientes. O estudo concluiu que a terapia é segura e muito bem tolerada, inclusive durante longos períodos de tratamento. Além disso, um ponto notório que se comprovou é que diferente das estatinas, a levedura de arroz vermelho não está associada com aumento da incidência de efeitos adversos musculares. Pelo contrário, o estudo sugeriu que o nutracêutico em questão atua de forma protetora nesses sintomas. Diante disso, os estudos nos mostram que essa terapêutica alternativa pode ser utilizada para tratar a dislipidemia em população geral com risco de doença cardiovascular, especialmente em pacientes intolerantes a estatinas. Você já conhecia essa opção nos casos de dislipidemia? Comenta aqui embaixo o que achou! Referências DOI: 10.1016/j.phrs.2019.02.028 DOI: 10.1038/s41598-020-59796-5