Este guia técnico-didático, voltado a médicos especialistas, descreve passo a passo como elaborar um laudo de MAPA de 24 horas de acordo com as Diretrizes Brasileiras de Cardiologia – em especial a Diretriz de Hipertensão da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC). O objetivo é assegurar padronização, qualidade e clareza na interpretação do exame.
Critérios de Qualidade Técnica do Exame
Para que o exame de MAPA 24h seja válido e interpretável, ele deve atender a critérios mínimos de qualidade técnica:
- Número mínimo de medidas válidas: recomenda-se programar o dispositivo para medições, no mínimo, a cada 30 minutos, visando obter ao menos 16 medidas válidas no período diurno e 8 no período de sonoabccardiol.orgabccardiol.org. Esse é o critério mínimo para considerar o exame adequado. Por exemplo, medições a cada 15-20 minutos durante o dia e 30 minutos à noite normalmente garantem essa quantidade de leituras.
- Taxa de sucesso das medidas: devem ser relatados o número total de medidas realizadas e a porcentagem que foi efetivamente válida. Exames nos quais 20% ou mais das leituras são descartadas (seja por artefatos, erros ou exclusões) geralmente indicam problemas técnicos no aparelho ou falta de cooperação do pacienteabccardiol.org. Nesses casos, a confiabilidade do resultado fica comprometida.
- Critérios de aceitabilidade: em situações excepcionais, pode-se aceitar um número de medidas ligeiramente abaixo do recomendado se as perdas ocorreram em horários não críticos e a qualidade global permitir análise confiável (decisão a juízo clínico)abccardiol.org. Entretanto, essa é a exceção e não a regra.
- Avaliação do diário e do contexto: ao remover o aparelho, o profissional deve verificar se o paciente preencheu adequadamente o diário de atividades (horários de sono, atividades, sintomas, medicações) e se houve eventos que possam ter prejudicado o registro (por exemplo, desconforto excessivo levando o paciente a pausar o aparelho)abccardiol.org. Deve-se avaliar subjetivamente se o paciente manteve a rotina habitual ou se a monitorização interferiu nas atividades ou sono, pois isso deve ser considerado na interpretação do laudoabccardiol.org.
- Exame inválido ou repetição: caso o exame não atenda aos critérios acima – por exemplo, número de leituras válidas insuficiente, longos períodos sem medidas (especialmente durante o sono) ou artefatos excessivos –, ele é considerado inconclusivo ou de qualidade inadequada. Nessa situação, o paciente deve ser orientado sobre a necessidade de repetir o exame para obter dados confiáveisabccardiol.org. Em resumo, um MAPA com dados incompletos ou pouco fidedignos não deve ser interpretado de forma conclusiva.
Valores de Referência e Pontos de Corte do MAPA 24h
As diretrizes estabelecem valores de referência específicos para as médias de pressão arterial obtidas no MAPA, diferentes dos valores de consultório, para definir normalidade ou hipertensão arterial. Os pontos de corte para hipertensão no MAPA de 24h (valor médio igual ou acima do limite) são os seguintes:
- Média de 24 horas: ≥ 130/80 mmHgabccardiol.org
- Média do período diurno (vigília): ≥ 135/85 mmHgabccardiol.org
- Média do período noturno (sono): ≥ 120/70 mmHgabccardiol.org
Esses limites correspondem aos valores a partir dos quais considera-se anormal a pressão arterial medida por MAPA, equivalendo aproximadamente a pressão de consultório de 140/90 mmHg em termos de riscopmc.ncbi.nlm.nih.gov. Em outras palavras, se a média das 24h for ≥130/80, ou a média diurna for ≥135/85, ou a média noturna for ≥120/70, o exame sugere hipertensão arterial pelo MAPA (pressão elevada fora do consultório). Valores abaixo desses limiares indicam normotensão no respectivo período.
Algumas observações importantes sobre os valores de referência:
- Há valores distintos para períodos de vigília e sono porque, fisiologicamente, a pressão arterial tende a ser mais alta durante o dia (atividade) e mais baixa à noite (repouso). Por isso, os limites de normalidade noturna são menores do que os diurnostelemedicinamorsch.com.br.
- Em indivíduos saudáveis, espera-se uma queda de 10% a 20% nos níveis pressóricos durante o sono em relação ao diatelemedicinamorsch.com.br. Essa diferença (descenso) é considerada na avaliação do padrão circadiano (ver próximo tópico).
- Em laudos, é útil apresentar as médias sistólica (PAS) e diastólica (PAD) de 24h, diurna e noturna, comparando-as aos valores de referência acima. Por exemplo: “PA média 24h de 128/78 mmHg (dentro da normalidade)”. Isso dá clareza imediata se o paciente está dentro dos limites ou não.
- Caso apenas um dos períodos esteja alterado (por exemplo, média diurna normal mas média noturna elevada), deve-se enfatizar esse achado. Hipertensão isolada do período noturno (quando a PA do sono está elevada, mas a diurna não) também é clinicamente relevante – pode sugerir, por exemplo, apneia do sono ou outras condições – e deve ser reportada.
Avaliação do Padrão de Descenso Noturno (Padrão Dipper)
Um dos aspectos exclusivos fornecidos pelo MAPA é o padrão de descenso noturno da pressão arterial, isto é, a variação da PA média entre o dia e a noite. Para avaliá-lo, comparamos a média da PA durante a vigília com a média durante o sono, geralmente calculando a redução percentual durante o sono em relação ao período diurnoabccardiol.org. De acordo com as diretrizes, o comportamento circadiano da PA é classificado da seguinte forma:
- Descenso normal (padrão dipper): redução da PA durante o sono de aproximadamente 10% a 20% em comparação à média diurnaabccardiol.org. Este é o padrão fisiológico esperado na maioria dos indivíduos.
- Descenso atenuado (padrão non-dipper leve): redução > 0% e < 10% – ou seja, queda muito pequena da PA noturnaabccardiol.org. Aqui a pressão à noite permanece quase no mesmo patamar do dia, indicando ausência de queda significativa.
- Ausência de descenso (padrão non-dipper ou padrão riser quando há elevação): diferença ≤ 0%, o que significa que não houve queda alguma ou, pior, a pressão média noturna foi igual ou maior que a diurnaabccardiol.org. Esse é um achado anormal, indicando perda do descenso ou inversão do ritmo (pressão noturna alta).
- Descenso acentuado (padrão extreme dipper): redução > 20% da PA durante o sonoabccardiol.org, ou seja, uma queda noturna excessiva além do esperado.
Para calcular essas porcentagens, considera-se tipicamente a pressão sistólica, embora possa-se avaliar também a diastólica. Importante notar que os padrões de descenso de PAS e PAD nem sempre coincidem – por exemplo, um paciente pode ter descenso normal da PAS, mas atenuado da PAD. Nesses casos, as diretrizes orientam descrever separadamente o comportamento de cada componente da PA no laudoabccardiol.org.
Do ponto de vista clínico, o padrão de descenso noturno traz informações prognósticas significativas: a ausência de descenso (ou elevação) está associada a maior risco de eventos cardiovasculares e mortalidade, independente dos valores médios de PAabccardiol.org. Assim, pacientes non-dippers ou com padrão invertido tendem a ter pior prognóstico em estudos populacionais. Por outro lado, um descenso extremamente acentuado (>20%) em pacientes idosos também já foi relacionado a maior risco (por exemplo, maior propensão a hipotensão no período noturno e eventos isquêmicos)abccardiol.org. De qualquer forma, as categorias de descenso servem principalmente como marcadores de risco, não havendo evidência de que devam guiar ajustes terapêuticos específicosabccardiol.org – isto é, não se recomenda medicar um paciente apenas para mudar o padrão de dipper/nondipper, pois não há implicação terapêutica comprovada desse achadoabccardiol.org.
No laudo, deve-se relatar o padrão encontrado, por exemplo: “Presente descenso fisiológico da PA no sono (padrão dipper, queda de ~15% na PAS média noturna)” ou “Ausência de descenso noturno da PA (padrão não-dipper)”. Isso informa ao médico assistente se o paciente perde a queda noturna esperada. Sempre contextualize com a qualidade do sono reportada – um paciente que referiu sono muito ruim ou interrompido durante o exame pode apresentar um falso padrão não-dipper devido à ativação simpática, e isso merece comentário no laudo.
Variabilidade da PA, Carga Pressórica e Fenômenos do Avental Branco/Mascarada
Além das médias e do padrão circadiano, o MAPA fornece outros parâmetros e possibilita identificar fenômenos clínicos especiais. A seguir, explicamos como abordar cada um deles no laudo.
Variabilidade da Pressão Arterial
A variabilidade da PA refere-se ao grau de flutuação dos valores pressóricos ao longo do período monitorado. No MAPA 24h, costuma-se avaliar a variabilidade de curto prazo, ou seja, as oscilações batimento a batimento não são medidas, mas podemos observar a variação entre medidas consecutivas ou calcular o desvio-padrão das pressões sistólica e diastólica durante o dia e a noiteabccardiol.org.
Estudos indicam que uma variabilidade diurna aumentada da PAS pode associar-se a maior mortalidade cardiovascularabccardiol.org. No entanto, as diretrizes ressaltam que falta padronização para quantificar a variabilidade no MAPA e não existem pontos de corte estabelecidos para definir variabilidade “normal” ou “excessiva”abccardiol.org. Consequentemente, não se recomenda utilizar rotineiramente índices de variabilidade na interpretação clínica do MAPAabccardiol.org.
Como relatar então a variabilidade? Em geral, de forma qualitativa. Pode-se mencionar se a pressão apresentou-se estável ou muito lábil. Por exemplo: “Observa-se importante variabilidade das medidas pressóricas, com oscilações amplas entre as leituras (PAS variando de 110 a 180 mmHg ao longo do dia)”. Caso contrário, se os valores se mantiveram relativamente homogêneos, pode-se dizer “pressão arterial com variabilidade dentro do esperado”. Se o equipamento fornecer os desvios-padrão das médias, esses podem ser incluídos entre parênteses como informação adicional, mas lembrando que não há um “valor normal” formal para desvio-padrão da PA estabelecido. Assim, use a apreciação clínica: variabilidade extrema pode ser sinal de controle inadequado, hiper-reatividade ou fatores externos (atividade física, estresse, etc.) que devem ser correlacionados com o diário do paciente.
Carga Pressórica
A carga pressórica representa a porcentagem de leituras durante o MAPA que ultrapassam os limites de normalidade para aquele período (24h, diurno ou noturno)abccardiol.org. Em outras palavras, é a “carga” de pressão elevada ao longo do dia/noite. Por exemplo, se de 50 medidas diurnas, 20 foram ≥135/85 mmHg, a carga pressórica diurna é de 40%.
No laudo, é útil reportar a carga pressórica sistólica e diastólica, pois complementa a análise da média. Valores altos de carga significam que a PA ficou elevada por boa parte do tempo. Historicamente, considerava-se carga > 30% como sugestiva de hipertensão clinicamente significativa. As diretrizes atuais, porém, apontam que a carga pressórica correlaciona-se fortemente com a PA média e não adiciona muito na estratificação de risco em relação às médiasabccardiol.orgabccardiol.org. Ou seja, pacientes com médias muito altas naturalmente terão carga alta, e vice-versa.
Ainda assim, citar a carga pressórica no laudo pode ser benéfico para ilustrar o quão frequente a pressão excedeu o normal. Por exemplo: “Carga pressórica sistólica: 45% nas 24h (50% no período diurno e 30% no noturno)”. Esse dado ajuda a visualizar a persistência da hipertensão ao longo do dia. Note que as diretrizes de MAPA classificam cargas extremas assim: uma carga sistólica > 50% em 24h configura hipertensão grave pelo MAPA (associada a maior risco de lesão de órgão-alvo)abccardiol.org. Portanto, se mais da metade das medidas estiverem acima do limite, deve-se dar destaque a isso, pois indica pressão persistentemente elevada. Por outro lado, cargas muito baixas (ex.: <10%) reforçam que na imensa maioria do tempo a PA ficou controlada.
Em resumo, use a carga como informação adicional: ela quantifica o peso da hipertensão no dia a dia. Mas interprete-a sempre à luz das médias e do contexto clínico. Uma carga levemente elevada, mas com média limítrofe, pode não mudar a conduta; já uma carga muito alta reforça a necessidade de intervenção mais enérgica.
Hipertensão do Avental Branco (HAB)
A hipertensão do avental branco (HAB) – também chamada de hipertensão isolada de consultório – ocorre quando o paciente apresenta pressão alta no consultório, mas normal fora dele. O MAPA é uma ferramenta crucial para identificar esse fenômeno. Conforme as diretrizes, define-se HAB quando a pressão medida no consultório é ≥ 140/90 mmHg, porém as médias da MAPA (especialmente a média de vigília) estão dentro da normalidade (isto é, <135/85 mmHg no período diurno)abccardiol.org. Estima-se que cerca de 15% a 30% dos pacientes com suspeita de hipertensão se enquadrem nesse perfilabccardiol.org, frequentemente atribuído à ansiedade ou ao efeito do avental branco (a reação de alarme ao ser avaliado pelo médico).
No laudo do MAPA, como relatar HAB? Primeiro, é importante ressaltar que o diagnóstico formal de hipertensão do avental branco é clínico, dependente de comparar medidas de consultório e fora deleabccardiol.org. O MAPA isoladamente não “diagnostica” HAB sem a informação do consultório. Portanto, o laudo deve ser cuidadoso: podemos descrever que os valores do MAPA estão normais e sugerem fortemente fenômeno de avental branco se de fato havia hipertensão no consultório. Por exemplo, na conclusão poderíamos escrever: “Comportamento pressórico de 24h dentro dos limites da normalidade, o que sugere hipertensão do avental branco em paciente com medidas elevadas em consultório”. Outra forma: “Ausência de hipertensão pelas médias do MAPA; achados compatíveis com efeito do avental branco caso a PA de consultório seja elevada”.
Note que as diretrizes recomendam que a conclusão do laudo do MAPA se atenha a dizer se o comportamento pressórico nas 24h foi normal ou anormal, pois HAB não deixa de ser um diagnóstico diferencial clínicoabccardiol.org. Entretanto, na prática assistencial, é válido orientar o colega que solicitou o exame acerca dessa possibilidade. Então, mencione HAB como uma interpretação contextual, não como um diagnóstico fechado no laudo.
Adicionalmente, pode-se mencionar o efeito do avental branco (EAB) quantificado, se for conhecido: o EAB é definido pela diferença entre a PA de consultório e a média da PA diurna do MAPAabccardiol.org. Um EAB significativo é geralmente considerado quando a pressão de consultório excede a média diurna do MAPA em > 20 mmHg na sistólica ou > 10 mmHg na diastólicaabccardiol.org. Caso tenhamos esses dados, poderíamos informar: “Diferença consultório–MAPA diurno sugestiva de efeito do avental branco significativo (ex.: PAS consultório 160 vs. PAS vigília 135, diferença de 25 mmHg)”. Novamente, isso reforça a explicação do fenômeno.
Em suma, o laudo deve transmitir se o MAPA veio normal apesar de suspeita de hipertensão. Se sim, a HAB é fortemente considerada. Nunca diagnosticar “hipertensão” no laudo se o MAPA foi normal – isso confundiria. Em vez disso, destaque a normalidade fora do consultório e oriente a interpretação clínica adequada (possível HAB).
Hipertensão Mascarada (HM)
Já a hipertensão mascarada (HM) é o inverso: pressões normais no consultório, porém elevadas no MAPA – ou seja, a hipertensão “se esconde” nas medidas casuais, mas se revela no monitoramento ambulatorial. Define-se hipertensão mascarada quando a PA de consultório é < 140/90 (considerada normal), porém no MAPA as médias estão em nível hipertensivo (≥ 130/80 na 24h ou ≥ 135/85 diurno, etc.)pmc.ncbi.nlm.nih.gov. Na prática, o paciente parece normotenso nas consultas, mas realmente é hipertenso no dia a dia. Estima-se que 10% a 15% dos indivíduos aparentemente normotensos possam ter hipertensão mascarada, especialmente se há fatores de risco ou lesão de órgão-alvo presentetelemedicinamorsch.com.br.
No laudo do MAPA, suspeitamos de hipertensão mascarada quando encontramos médias elevadas sem que houvesse registro de pressões altas em consultório (geralmente o médico solicitante informa que as medidas de consultório ou casa eram normais, mas havia suspeita devido a alto risco, sintomas ou dano em órgãos). Para relatar, valem princípios semelhantes à HAB: o MAPA detectou um comportamento anormal não esperado. Podemos concluir por exemplo: “Comportamento anormal da PA nas 24h, com níveis acima dos referenciais normais, indicando hipertensão arterial não detectada em medidas de consultório (hipertensão mascarada)”. Ou ainda: “Médias pressóricas elevadas no MAPA, incompatíveis com os valores normais de consultório relatados – achados sugerem hipertensão mascarada”.
Novamente, não cabe ao laudo do MAPA diagnosticar sozinho, mas sim correlacionar os achados com as informações fornecidas. Portanto, se os dados clínicos apontam que o paciente tinha PA normal em consultas e o MAPA veio francamente alterado, deixe claro que isso configura um fenótipo de hipertensão mascarada, o qual merece atenção porque tais pacientes têm risco cardiovascular semelhante ao dos hipertensos sustentados.
De modo geral, tanto HAB quanto HM são fenótipos importantes identificados com ajuda do MAPA. As diretrizes definem:
- Normotensão Verdadeira: PA normal no consultório e no MAPA;
- Hipertensão Sustentada: PA elevada no consultório e também elevada no MAPA (hipertensão confirmada);
- HAB: PA elevada no consultório, mas normal no MAPA;
- HM: PA normal no consultório, mas elevada no MAPApmc.ncbi.nlm.nih.gov.
O laudo do MAPA deve permitir distinguir esses cenários quando os dados clínicos são conhecidos. Em especial, HAB e HM devem ser mencionadas como possibilidades quando aplicáveis, já que guiam a conduta (por exemplo, HAB pode evitar tratamento desnecessário; HM indica necessidade de tratar apesar de consultório normal). Sempre inclua essa análise na conclusão ou comentários finais do laudo de forma clara e sucinta.
Interpretação dos Dados e Estruturação do Laudo Final
A confecção do laudo deve seguir uma estrutura lógica que inclua os principais resultados quantitativos do MAPA e uma síntese interpretativa clara. As Diretrizes da SBC fornecem um roteiro dos itens que devem constar no relatórioabccardiol.org, que podemos resumir e explicar a seguir:
Itens Obrigatórios no Laudo de MAPA
- Identificação e período do exame: Data e hora de início e término do monitoramentoabccardiol.org. Isso documenta se o exame durou de fato 24h (ou próximo disso) e em que dia foi realizado. Exemplo: “Exame iniciado em 05/06/2025 08:00 e concluído em 06/06/2025 08:00.”
- Qualidade do exame: Informar o número total de medidas realizadas e o número e porcentagem de medidas válidas obtidasabccardiol.org. Se houve falhas, aqui pode-se mencionar: “Foram obtidas 90 medidas, das quais 80 válidas (89%); qualidade adequada.” Caso exista algum intervalo sem medidas (por ex., paciente retirou o aparelho por 1 hora), isso deve ser descrito, incluindo se prejudicou a análiseabccardiol.org.
- Médias pressóricas: Apresentar as médias da PAS e PAD nas 24h, no período diurno e no período noturnoabccardiol.org. É útil colocar ao lado entre parênteses os valores de referência para fácil comparação. Exemplo: “PA média 24h: 132/82 mmHg (limite normal <130/80), média diurna 135/85 (limite <135/85), média noturna 125/75 (limite <120/70).”
- Comportamento vigília-sono (descenso): Descrever o padrão de queda noturna da PAabccardiol.org. Aqui entra a classificação dipper/non-dipper já discutida. Pode-se quantificar a percentagem de descenso da PAS (e PAD se relevante). Exemplo: “Houve queda de 8% na PAS durante o sono em relação ao dia, caracterizando descenso atenuado (padrão não-dipper).”
- Picos hipertensivos: Relatar os picos de PA observadosabccardiol.org, ou seja, os valores máximos registrados e em que contexto ocorreram (se possível correlacionar). Exemplo: “PA máxima registrada: 180/100 mmHg às 16:30, durante atividade física relatada.” Isso é importante para identificar episódios hipertensivos paroxísticos ou resposta exagerada a alguma situação.
- Episódios de hipotensão: Mencionar se houve leituras muito baixas de PA e, se sim, se tiveram sintomasabccardiol.org. Exemplo: “Mínima de 90/50 mmHg às 03:00, assintomática.” Ou “Episódios de hipotensão postural relatados pelo paciente às 07:00 coincidiram com PAS ~95 mmHg.”
- Diário e correlações clínicas: Incluir correlação entre as medidas de PA e as atividades, sintomas e medicações anotadas no diárioabccardiol.org. Essa seção qualitativa dá vida aos números. Por exemplo: “Observou-se elevação da PA durante o período de trabalho (manhã e tarde) e redução à noite. Picos hipertensivos coincidiram com relato de estresse às 11:00 e 15:00. Não houve elevação significativa após o café da manhã. O paciente referiu cefaleia às 16:00, momento em que a PAS estava em 178 mmHg. Uso de captopril 25mg às 08:00 e 20:00, com discreta redução da PA nas 2 horas subsequentes a essas tomadas.” Esse tipo de informação mostra se a PA variou conforme as atividades diárias e se sintomas podem ser atribuíveis às alterações pressóricas.
- Conclusão: Por fim, apresentar uma síntese conclusiva dos achadosabccardiol.org. A conclusão deve responder ao motivo do exame e indicar se o comportamento pressórico foi normal ou patológico. Deve ser direta e baseada nos dados apurados. Exemplos de conclusões são apresentados adiante.
Além desses itens, caso o exame tenha sido solicitado para avaliar alguma questão específica (p.ex. eficácia de tratamento, suspeita de hipertensão noturna, investigação de síncope, etc.), certifique-se de responder a essa pergunta no laudo. As diretrizes recomendam que o motivo da solicitação conste do laudoabccardiol.org, e que a interpretação aborde esse motivo. Por exemplo, em paciente em uso de anti-hipertensivos, a conclusão deve comentar sobre controle pressórico sob aquele esquema (adequado ou não)abccardiol.org. Ou, se a indicação era “avaliar síncope”, deve-se dar ênfase a eventuais hipotensões ou bradicardias registradas.
Organize o laudo de forma seccional: Dados do exame, Resultados (médias, cargas, etc.), Interpretação e Conclusão. Use linguagem objetiva, numérica nas partes de resultado, e interpretativa na conclusão.
Exemplos Práticos de Frases Conclusivas
A conclusão é a parte mais lida do laudo, devendo ser clara e sumária. Abaixo, alguns exemplos de frases conclusivas para diferentes cenários, alinhadas às diretrizes:
- Exame normal (normotenso): “Conclusão: Comportamento normal da pressão arterial nas 24 horas. Médias de PA dentro dos limites de normalidade (PA 24h ~125/78 mmHg; vigília 128/80; sono 115/70) com descenso noturno presente (padrão dipper fisiológico). Os achados sugerem controle pressórico adequado e ausência de hipertensão arterial pelo MAPA.”
(Interpretação: Todas as médias abaixo dos pontos de corte; paciente não hipertenso pelo MAPA. Se havia suspeita de hipertensão, isso indica possivelmente efeito do avental branco.) - Hipertensão sustentada (valores elevados): “Conclusão: Comportamento anormal da pressão arterial nas 24h, compatível com hipertensão arterial. Observam-se médias pressóricas elevadas (PA 24h 142/88 mmHg; diurna 145/90; noturna 135/80) excedendo os valores de referênciaabccardiol.org. Houve descenso noturno atenuado (queda de ~5% na PAS; padrão não-dipper). Achados indicam pressão arterial mal controlada no período monitorado.”
(Interpretação: Médias acima do normal tanto de dia quanto à noite – hipertensão confirmada pelo MAPA. Conclusão enfatiza o perfil global e o padrão circadiano alterado.) - Sugestivo de hipertensão do avental branco: “Conclusão: Comportamento pressórico normal nas 24h (médias normais: 124/79 mmHg vigília; 118/68 sono), sem caracterizar hipertensão no MAPA. Esses resultados sugerem efeito do avental branco, considerando que o paciente apresentava níveis elevados em consultório.”
(Interpretação: O MAPA está normal, então explica-se que pode ser HAB. Observação de que não há hipertensão pelo MAPA, apesar de história de PA alta no consultório.) - Sugestivo de hipertensão mascarada: “Conclusão: Comportamento anormal da PA no MAPA, com elevação das médias (PA vigília 138/86 mmHg; 24h 131/82) apesar de valores normotensos em consultório informados. Achados compatíveis com hipertensão mascarada, indicando necessidade de acompanhamento e controle terapêutico mesmo com PA de consultório normal.”
(Interpretação: O MAPA revelou hipertensão oculta. A conclusão liga os dados do MAPA com o fato de que em consultório era normal, nomeando hipertensão mascarada.) - Avaliação de tratamento (exemplo): “Conclusão: Monitorização de 24h em paciente em uso de anti-hipertensivos mostra controle pressórico inadequado. Persistem níveis elevados particularmente no período da manhã (média matinal 140/90) sugerindo necessidade de ajuste terapêutico. Não houve descenso noturno (padrão não-dipper).”
(Interpretação: Direcionado para dizer se o tratamento em curso está controlando ou não. Nesse caso, não.)
Cada conclusão deve ser personalizada ao paciente e à indicação do exame, mas mantendo essa estrutura: primeiro afirmar se o padrão geral foi normal ou anormal; em seguida detalhar brevemente os achados principais (médias altas/baixas, dipper ou não, etc.); e por fim, conectar isso ao contexto clínico (diagnóstico de hipertensão, controle do tratamento, suspeita de HAB/HM, etc.). Lembre-se de usar termos claros e evitar ambiguidades. Se o laudo for extenso, a conclusão deve se manter concisa e destacada.
Quando o Exame é Inconclusivo e Deve ser Repetido
Em algumas circunstâncias, o laudo não poderá trazer uma conclusão confiável devido a problemas na realização do exame. Nesses casos, considera-se o MAPA inconclusivo, e a repetição do exame é indicada. Situações que se enquadram nisso incluem:
- Insuficiência de medidas válidas: Conforme citado, menos de 16 medidas diurnas ou 8 noturnas válidas tornam a amostragem muito limitadaabccardiol.org. Um número tão baixo de leituras dificilmente representa corretamente o perfil pressórico de 24h, portanto o resultado não é fidedigno.
- Falha técnica ou artefatos excessivos: Se o aparelho apresentou defeito, desligou, ou se mais de 20% das medidas foram perdidas/invalidas, o registro é considerado tecnicamente falhoabccardiol.org. Por exemplo, várias horas sem nenhuma medição registrada, ou valores claramente errôneos por movimentação excessiva, invalidam a análise.
- Não adesão do paciente: Caso o paciente tenha removido o manguito por longos períodos, não seguido as orientações (por ex., manteve o braço dobrado impedindo medições) ou não tenha preenchido nenhum dado no diário, o exame perde muita informação contextual. Nessa situação, vale reeducar o paciente e repetir o exame com melhor orientação.
- Interferências significativas: Situações atípicas no dia do exame que fujam completamente da rotina do paciente (ex.: estresse extremo, uso inadvertido de medicação diferente, noite de insônia completa) podem tornar aquele registro não representativo do dia a dia usual. Se a interpretação ficar comprometida por esses fatores, pode-se considerar repetir em outro dia mais típico.
- Resultado duvidoso ou limítrofe sem clareza diagnóstica: Se o MAPA veio borderline (próximo aos limites de normalidade) e a conclusão quanto à presença ou não de hipertensão ficou incerta – especialmente se há alta suspeita clínica –, uma repetição ou um método complementar (como Monitorização Residencial da Pressão – MRPA) pode ser útil. Embora não haja um critério rígido de quando repetir por resultado limítrofe, o médico deve julgar se um segundo MAPA ajudaria a confirmar ou refutar um achado inicial.
Ao constatar um exame inconclusivo, explique no laudo o porquê. Por exemplo: “Exame de MAPA com número insuficiente de leituras válidas, não permitindo análise confiável dos níveis de PA. Recomenda-se repetir o exame.” Isso justifica a ausência de conclusão diagnóstica. Conforme protocolo, a equipe técnica já deve ter informado o paciente sobre a necessidade de repetição assim que verificou a baixa qualidade na devolução do aparelhoabccardiol.org.
Em síntese, não force uma interpretação se os dados não sustentam: é preferível declarar o exame inválido/inadequado e repetir, do que emitir um laudo potencialmente enganoso. A qualidade vem em primeiro lugar – um laudo bem fundamentado depende de um registro válido. Seguindo as diretrizes de qualidade e orientando corretamente o paciente, minimizamos a chance de exames inconclusivos. Se ainda assim ocorrer, repetir o MAPA (após corrigir os problemas identificados) é o próximo passo apropriado para obter a informação necessária com segurança.
Referências: As recomendações e valores apresentados baseiam-se nas 6ª Diretrizes de Monitorização Ambulatorial da Pressão Arterial e 4ª Diretrizes de Monitorização Residencial da Pressão Arterial da SBCabccardiol.orgabccardiol.org, bem como na Diretriz Brasileira de Hipertensão Arterial – 2020pmc.ncbi.nlm.nih.govpmc.ncbi.nlm.nih.gov, entre outros documentos oficiais mencionados ao longo do texto. Essas diretrizes fornecem o embasamento científico para a padronização do laudo de MAPA, garantindo que sua elaboração seja consistente com as melhores práticas nacionais.
Este guia técnico-didático, voltado a médicos especialistas, descreve passo a passo como elaborar um laudo de MAPA de 24 horas de acordo com as Diretrizes Brasileiras de Cardiologia – em especial a Diretriz de Hipertensão da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC). O objetivo é assegurar padronização, qualidade e clareza na interpretação do exame.
Critérios de Qualidade Técnica do Exame
Para que o exame de MAPA 24h seja válido e interpretável, ele deve atender a critérios mínimos de qualidade técnica:
- Número mínimo de medidas válidas: recomenda-se programar o dispositivo para medições, no mínimo, a cada 30 minutos, visando obter ao menos 16 medidas válidas no período diurno e 8 no período de sonoabccardiol.orgabccardiol.org. Esse é o critério mínimo para considerar o exame adequado. Por exemplo, medições a cada 15-20 minutos durante o dia e 30 minutos à noite normalmente garantem essa quantidade de leituras.
- Taxa de sucesso das medidas: devem ser relatados o número total de medidas realizadas e a porcentagem que foi efetivamente válida. Exames nos quais 20% ou mais das leituras são descartadas (seja por artefatos, erros ou exclusões) geralmente indicam problemas técnicos no aparelho ou falta de cooperação do pacienteabccardiol.org. Nesses casos, a confiabilidade do resultado fica comprometida.
- Critérios de aceitabilidade: em situações excepcionais, pode-se aceitar um número de medidas ligeiramente abaixo do recomendado se as perdas ocorreram em horários não críticos e a qualidade global permitir análise confiável (decisão a juízo clínico)abccardiol.org. Entretanto, essa é a exceção e não a regra.
- Avaliação do diário e do contexto: ao remover o aparelho, o profissional deve verificar se o paciente preencheu adequadamente o diário de atividades (horários de sono, atividades, sintomas, medicações) e se houve eventos que possam ter prejudicado o registro (por exemplo, desconforto excessivo levando o paciente a pausar o aparelho)abccardiol.org. Deve-se avaliar subjetivamente se o paciente manteve a rotina habitual ou se a monitorização interferiu nas atividades ou sono, pois isso deve ser considerado na interpretação do laudoabccardiol.org.
- Exame inválido ou repetição: caso o exame não atenda aos critérios acima – por exemplo, número de leituras válidas insuficiente, longos períodos sem medidas (especialmente durante o sono) ou artefatos excessivos –, ele é considerado inconclusivo ou de qualidade inadequada. Nessa situação, o paciente deve ser orientado sobre a necessidade de repetir o exame para obter dados confiáveisabccardiol.org. Em resumo, um MAPA com dados incompletos ou pouco fidedignos não deve ser interpretado de forma conclusiva.
Valores de Referência e Pontos de Corte do MAPA 24h
As diretrizes estabelecem valores de referência específicos para as médias de pressão arterial obtidas no MAPA, diferentes dos valores de consultório, para definir normalidade ou hipertensão arterial. Os pontos de corte para hipertensão no MAPA de 24h (valor médio igual ou acima do limite) são os seguintes:
- Média de 24 horas: ≥ 130/80 mmHgabccardiol.org
- Média do período diurno (vigília): ≥ 135/85 mmHgabccardiol.org
- Média do período noturno (sono): ≥ 120/70 mmHgabccardiol.org
Esses limites correspondem aos valores a partir dos quais considera-se anormal a pressão arterial medida por MAPA, equivalendo aproximadamente a pressão de consultório de 140/90 mmHg em termos de riscopmc.ncbi.nlm.nih.gov. Em outras palavras, se a média das 24h for ≥130/80, ou a média diurna for ≥135/85, ou a média noturna for ≥120/70, o exame sugere hipertensão arterial pelo MAPA (pressão elevada fora do consultório). Valores abaixo desses limiares indicam normotensão no respectivo período.
Algumas observações importantes sobre os valores de referência:
- Há valores distintos para períodos de vigília e sono porque, fisiologicamente, a pressão arterial tende a ser mais alta durante o dia (atividade) e mais baixa à noite (repouso). Por isso, os limites de normalidade noturna são menores do que os diurnostelemedicinamorsch.com.br.
- Em indivíduos saudáveis, espera-se uma queda de 10% a 20% nos níveis pressóricos durante o sono em relação ao diatelemedicinamorsch.com.br. Essa diferença (descenso) é considerada na avaliação do padrão circadiano (ver próximo tópico).
- Em laudos, é útil apresentar as médias sistólica (PAS) e diastólica (PAD) de 24h, diurna e noturna, comparando-as aos valores de referência acima. Por exemplo: “PA média 24h de 128/78 mmHg (dentro da normalidade)”. Isso dá clareza imediata se o paciente está dentro dos limites ou não.
- Caso apenas um dos períodos esteja alterado (por exemplo, média diurna normal mas média noturna elevada), deve-se enfatizar esse achado. Hipertensão isolada do período noturno (quando a PA do sono está elevada, mas a diurna não) também é clinicamente relevante – pode sugerir, por exemplo, apneia do sono ou outras condições – e deve ser reportada.
Avaliação do Padrão de Descenso Noturno (Padrão Dipper)
Um dos aspectos exclusivos fornecidos pelo MAPA é o padrão de descenso noturno da pressão arterial, isto é, a variação da PA média entre o dia e a noite. Para avaliá-lo, comparamos a média da PA durante a vigília com a média durante o sono, geralmente calculando a redução percentual durante o sono em relação ao período diurnoabccardiol.org. De acordo com as diretrizes, o comportamento circadiano da PA é classificado da seguinte forma:
- Descenso normal (padrão dipper): redução da PA durante o sono de aproximadamente 10% a 20% em comparação à média diurnaabccardiol.org. Este é o padrão fisiológico esperado na maioria dos indivíduos.
- Descenso atenuado (padrão non-dipper leve): redução > 0% e < 10% – ou seja, queda muito pequena da PA noturnaabccardiol.org. Aqui a pressão à noite permanece quase no mesmo patamar do dia, indicando ausência de queda significativa.
- Ausência de descenso (padrão non-dipper ou padrão riser quando há elevação): diferença ≤ 0%, o que significa que não houve queda alguma ou, pior, a pressão média noturna foi igual ou maior que a diurnaabccardiol.org. Esse é um achado anormal, indicando perda do descenso ou inversão do ritmo (pressão noturna alta).
- Descenso acentuado (padrão extreme dipper): redução > 20% da PA durante o sonoabccardiol.org, ou seja, uma queda noturna excessiva além do esperado.
Para calcular essas porcentagens, considera-se tipicamente a pressão sistólica, embora possa-se avaliar também a diastólica. Importante notar que os padrões de descenso de PAS e PAD nem sempre coincidem – por exemplo, um paciente pode ter descenso normal da PAS, mas atenuado da PAD. Nesses casos, as diretrizes orientam descrever separadamente o comportamento de cada componente da PA no laudoabccardiol.org.
Do ponto de vista clínico, o padrão de descenso noturno traz informações prognósticas significativas: a ausência de descenso (ou elevação) está associada a maior risco de eventos cardiovasculares e mortalidade, independente dos valores médios de PAabccardiol.org. Assim, pacientes non-dippers ou com padrão invertido tendem a ter pior prognóstico em estudos populacionais. Por outro lado, um descenso extremamente acentuado (>20%) em pacientes idosos também já foi relacionado a maior risco (por exemplo, maior propensão a hipotensão no período noturno e eventos isquêmicos)abccardiol.org. De qualquer forma, as categorias de descenso servem principalmente como marcadores de risco, não havendo evidência de que devam guiar ajustes terapêuticos específicosabccardiol.org – isto é, não se recomenda medicar um paciente apenas para mudar o padrão de dipper/nondipper, pois não há implicação terapêutica comprovada desse achadoabccardiol.org.
No laudo, deve-se relatar o padrão encontrado, por exemplo: “Presente descenso fisiológico da PA no sono (padrão dipper, queda de ~15% na PAS média noturna)” ou “Ausência de descenso noturno da PA (padrão não-dipper)”. Isso informa ao médico assistente se o paciente perde a queda noturna esperada. Sempre contextualize com a qualidade do sono reportada – um paciente que referiu sono muito ruim ou interrompido durante o exame pode apresentar um falso padrão não-dipper devido à ativação simpática, e isso merece comentário no laudo.
Variabilidade da PA, Carga Pressórica e Fenômenos do Avental Branco/Mascarada
Além das médias e do padrão circadiano, o MAPA fornece outros parâmetros e possibilita identificar fenômenos clínicos especiais. A seguir, explicamos como abordar cada um deles no laudo.
Variabilidade da Pressão Arterial
A variabilidade da PA refere-se ao grau de flutuação dos valores pressóricos ao longo do período monitorado. No MAPA 24h, costuma-se avaliar a variabilidade de curto prazo, ou seja, as oscilações batimento a batimento não são medidas, mas podemos observar a variação entre medidas consecutivas ou calcular o desvio-padrão das pressões sistólica e diastólica durante o dia e a noiteabccardiol.org.
Estudos indicam que uma variabilidade diurna aumentada da PAS pode associar-se a maior mortalidade cardiovascularabccardiol.org. No entanto, as diretrizes ressaltam que falta padronização para quantificar a variabilidade no MAPA e não existem pontos de corte estabelecidos para definir variabilidade “normal” ou “excessiva”abccardiol.org. Consequentemente, não se recomenda utilizar rotineiramente índices de variabilidade na interpretação clínica do MAPAabccardiol.org.
Como relatar então a variabilidade? Em geral, de forma qualitativa. Pode-se mencionar se a pressão apresentou-se estável ou muito lábil. Por exemplo: “Observa-se importante variabilidade das medidas pressóricas, com oscilações amplas entre as leituras (PAS variando de 110 a 180 mmHg ao longo do dia)”. Caso contrário, se os valores se mantiveram relativamente homogêneos, pode-se dizer “pressão arterial com variabilidade dentro do esperado”. Se o equipamento fornecer os desvios-padrão das médias, esses podem ser incluídos entre parênteses como informação adicional, mas lembrando que não há um “valor normal” formal para desvio-padrão da PA estabelecido. Assim, use a apreciação clínica: variabilidade extrema pode ser sinal de controle inadequado, hiper-reatividade ou fatores externos (atividade física, estresse, etc.) que devem ser correlacionados com o diário do paciente.
Carga Pressórica
A carga pressórica representa a porcentagem de leituras durante o MAPA que ultrapassam os limites de normalidade para aquele período (24h, diurno ou noturno)abccardiol.org. Em outras palavras, é a “carga” de pressão elevada ao longo do dia/noite. Por exemplo, se de 50 medidas diurnas, 20 foram ≥135/85 mmHg, a carga pressórica diurna é de 40%.
No laudo, é útil reportar a carga pressórica sistólica e diastólica, pois complementa a análise da média. Valores altos de carga significam que a PA ficou elevada por boa parte do tempo. Historicamente, considerava-se carga > 30% como sugestiva de hipertensão clinicamente significativa. As diretrizes atuais, porém, apontam que a carga pressórica correlaciona-se fortemente com a PA média e não adiciona muito na estratificação de risco em relação às médiasabccardiol.orgabccardiol.org. Ou seja, pacientes com médias muito altas naturalmente terão carga alta, e vice-versa.
Ainda assim, citar a carga pressórica no laudo pode ser benéfico para ilustrar o quão frequente a pressão excedeu o normal. Por exemplo: “Carga pressórica sistólica: 45% nas 24h (50% no período diurno e 30% no noturno)”. Esse dado ajuda a visualizar a persistência da hipertensão ao longo do dia. Note que as diretrizes de MAPA classificam cargas extremas assim: uma carga sistólica > 50% em 24h configura hipertensão grave pelo MAPA (associada a maior risco de lesão de órgão-alvo)abccardiol.org. Portanto, se mais da metade das medidas estiverem acima do limite, deve-se dar destaque a isso, pois indica pressão persistentemente elevada. Por outro lado, cargas muito baixas (ex.: <10%) reforçam que na imensa maioria do tempo a PA ficou controlada.
Em resumo, use a carga como informação adicional: ela quantifica o peso da hipertensão no dia a dia. Mas interprete-a sempre à luz das médias e do contexto clínico. Uma carga levemente elevada, mas com média limítrofe, pode não mudar a conduta; já uma carga muito alta reforça a necessidade de intervenção mais enérgica.
Hipertensão do Avental Branco (HAB)
A hipertensão do avental branco (HAB) – também chamada de hipertensão isolada de consultório – ocorre quando o paciente apresenta pressão alta no consultório, mas normal fora dele. O MAPA é uma ferramenta crucial para identificar esse fenômeno. Conforme as diretrizes, define-se HAB quando a pressão medida no consultório é ≥ 140/90 mmHg, porém as médias da MAPA (especialmente a média de vigília) estão dentro da normalidade (isto é, <135/85 mmHg no período diurno)abccardiol.org. Estima-se que cerca de 15% a 30% dos pacientes com suspeita de hipertensão se enquadrem nesse perfilabccardiol.org, frequentemente atribuído à ansiedade ou ao efeito do avental branco (a reação de alarme ao ser avaliado pelo médico).
No laudo do MAPA, como relatar HAB? Primeiro, é importante ressaltar que o diagnóstico formal de hipertensão do avental branco é clínico, dependente de comparar medidas de consultório e fora deleabccardiol.org. O MAPA isoladamente não “diagnostica” HAB sem a informação do consultório. Portanto, o laudo deve ser cuidadoso: podemos descrever que os valores do MAPA estão normais e sugerem fortemente fenômeno de avental branco se de fato havia hipertensão no consultório. Por exemplo, na conclusão poderíamos escrever: “Comportamento pressórico de 24h dentro dos limites da normalidade, o que sugere hipertensão do avental branco em paciente com medidas elevadas em consultório”. Outra forma: “Ausência de hipertensão pelas médias do MAPA; achados compatíveis com efeito do avental branco caso a PA de consultório seja elevada”.
Note que as diretrizes recomendam que a conclusão do laudo do MAPA se atenha a dizer se o comportamento pressórico nas 24h foi normal ou anormal, pois HAB não deixa de ser um diagnóstico diferencial clínicoabccardiol.org. Entretanto, na prática assistencial, é válido orientar o colega que solicitou o exame acerca dessa possibilidade. Então, mencione HAB como uma interpretação contextual, não como um diagnóstico fechado no laudo.
Adicionalmente, pode-se mencionar o efeito do avental branco (EAB) quantificado, se for conhecido: o EAB é definido pela diferença entre a PA de consultório e a média da PA diurna do MAPAabccardiol.org. Um EAB significativo é geralmente considerado quando a pressão de consultório excede a média diurna do MAPA em > 20 mmHg na sistólica ou > 10 mmHg na diastólicaabccardiol.org. Caso tenhamos esses dados, poderíamos informar: “Diferença consultório–MAPA diurno sugestiva de efeito do avental branco significativo (ex.: PAS consultório 160 vs. PAS vigília 135, diferença de 25 mmHg)”. Novamente, isso reforça a explicação do fenômeno.
Em suma, o laudo deve transmitir se o MAPA veio normal apesar de suspeita de hipertensão. Se sim, a HAB é fortemente considerada. Nunca diagnosticar “hipertensão” no laudo se o MAPA foi normal – isso confundiria. Em vez disso, destaque a normalidade fora do consultório e oriente a interpretação clínica adequada (possível HAB).
Hipertensão Mascarada (HM)
Já a hipertensão mascarada (HM) é o inverso: pressões normais no consultório, porém elevadas no MAPA – ou seja, a hipertensão “se esconde” nas medidas casuais, mas se revela no monitoramento ambulatorial. Define-se hipertensão mascarada quando a PA de consultório é < 140/90 (considerada normal), porém no MAPA as médias estão em nível hipertensivo (≥ 130/80 na 24h ou ≥ 135/85 diurno, etc.)pmc.ncbi.nlm.nih.gov. Na prática, o paciente parece normotenso nas consultas, mas realmente é hipertenso no dia a dia. Estima-se que 10% a 15% dos indivíduos aparentemente normotensos possam ter hipertensão mascarada, especialmente se há fatores de risco ou lesão de órgão-alvo presentetelemedicinamorsch.com.br.
No laudo do MAPA, suspeitamos de hipertensão mascarada quando encontramos médias elevadas sem que houvesse registro de pressões altas em consultório (geralmente o médico solicitante informa que as medidas de consultório ou casa eram normais, mas havia suspeita devido a alto risco, sintomas ou dano em órgãos). Para relatar, valem princípios semelhantes à HAB: o MAPA detectou um comportamento anormal não esperado. Podemos concluir por exemplo: “Comportamento anormal da PA nas 24h, com níveis acima dos referenciais normais, indicando hipertensão arterial não detectada em medidas de consultório (hipertensão mascarada)”. Ou ainda: “Médias pressóricas elevadas no MAPA, incompatíveis com os valores normais de consultório relatados – achados sugerem hipertensão mascarada”.
Novamente, não cabe ao laudo do MAPA diagnosticar sozinho, mas sim correlacionar os achados com as informações fornecidas. Portanto, se os dados clínicos apontam que o paciente tinha PA normal em consultas e o MAPA veio francamente alterado, deixe claro que isso configura um fenótipo de hipertensão mascarada, o qual merece atenção porque tais pacientes têm risco cardiovascular semelhante ao dos hipertensos sustentados.
De modo geral, tanto HAB quanto HM são fenótipos importantes identificados com ajuda do MAPA. As diretrizes definem:
- Normotensão Verdadeira: PA normal no consultório e no MAPA;
- Hipertensão Sustentada: PA elevada no consultório e também elevada no MAPA (hipertensão confirmada);
- HAB: PA elevada no consultório, mas normal no MAPA;
- HM: PA normal no consultório, mas elevada no MAPApmc.ncbi.nlm.nih.gov.
O laudo do MAPA deve permitir distinguir esses cenários quando os dados clínicos são conhecidos. Em especial, HAB e HM devem ser mencionadas como possibilidades quando aplicáveis, já que guiam a conduta (por exemplo, HAB pode evitar tratamento desnecessário; HM indica necessidade de tratar apesar de consultório normal). Sempre inclua essa análise na conclusão ou comentários finais do laudo de forma clara e sucinta.
Interpretação dos Dados e Estruturação do Laudo Final
A confecção do laudo deve seguir uma estrutura lógica que inclua os principais resultados quantitativos do MAPA e uma síntese interpretativa clara. As Diretrizes da SBC fornecem um roteiro dos itens que devem constar no relatórioabccardiol.org, que podemos resumir e explicar a seguir:
Itens Obrigatórios no Laudo de MAPA
- Identificação e período do exame: Data e hora de início e término do monitoramentoabccardiol.org. Isso documenta se o exame durou de fato 24h (ou próximo disso) e em que dia foi realizado. Exemplo: “Exame iniciado em 05/06/2025 08:00 e concluído em 06/06/2025 08:00.”
- Qualidade do exame: Informar o número total de medidas realizadas e o número e porcentagem de medidas válidas obtidasabccardiol.org. Se houve falhas, aqui pode-se mencionar: “Foram obtidas 90 medidas, das quais 80 válidas (89%); qualidade adequada.” Caso exista algum intervalo sem medidas (por ex., paciente retirou o aparelho por 1 hora), isso deve ser descrito, incluindo se prejudicou a análiseabccardiol.org.
- Médias pressóricas: Apresentar as médias da PAS e PAD nas 24h, no período diurno e no período noturnoabccardiol.org. É útil colocar ao lado entre parênteses os valores de referência para fácil comparação. Exemplo: “PA média 24h: 132/82 mmHg (limite normal <130/80), média diurna 135/85 (limite <135/85), média noturna 125/75 (limite <120/70).”
- Comportamento vigília-sono (descenso): Descrever o padrão de queda noturna da PAabccardiol.org. Aqui entra a classificação dipper/non-dipper já discutida. Pode-se quantificar a percentagem de descenso da PAS (e PAD se relevante). Exemplo: “Houve queda de 8% na PAS durante o sono em relação ao dia, caracterizando descenso atenuado (padrão não-dipper).”
- Picos hipertensivos: Relatar os picos de PA observadosabccardiol.org, ou seja, os valores máximos registrados e em que contexto ocorreram (se possível correlacionar). Exemplo: “PA máxima registrada: 180/100 mmHg às 16:30, durante atividade física relatada.” Isso é importante para identificar episódios hipertensivos paroxísticos ou resposta exagerada a alguma situação.
- Episódios de hipotensão: Mencionar se houve leituras muito baixas de PA e, se sim, se tiveram sintomasabccardiol.org. Exemplo: “Mínima de 90/50 mmHg às 03:00, assintomática.” Ou “Episódios de hipotensão postural relatados pelo paciente às 07:00 coincidiram com PAS ~95 mmHg.”
- Diário e correlações clínicas: Incluir correlação entre as medidas de PA e as atividades, sintomas e medicações anotadas no diárioabccardiol.org. Essa seção qualitativa dá vida aos números. Por exemplo: “Observou-se elevação da PA durante o período de trabalho (manhã e tarde) e redução à noite. Picos hipertensivos coincidiram com relato de estresse às 11:00 e 15:00. Não houve elevação significativa após o café da manhã. O paciente referiu cefaleia às 16:00, momento em que a PAS estava em 178 mmHg. Uso de captopril 25mg às 08:00 e 20:00, com discreta redução da PA nas 2 horas subsequentes a essas tomadas.” Esse tipo de informação mostra se a PA variou conforme as atividades diárias e se sintomas podem ser atribuíveis às alterações pressóricas.
- Conclusão: Por fim, apresentar uma síntese conclusiva dos achadosabccardiol.org. A conclusão deve responder ao motivo do exame e indicar se o comportamento pressórico foi normal ou patológico. Deve ser direta e baseada nos dados apurados. Exemplos de conclusões são apresentados adiante.
Além desses itens, caso o exame tenha sido solicitado para avaliar alguma questão específica (p.ex. eficácia de tratamento, suspeita de hipertensão noturna, investigação de síncope, etc.), certifique-se de responder a essa pergunta no laudo. As diretrizes recomendam que o motivo da solicitação conste do laudoabccardiol.org, e que a interpretação aborde esse motivo. Por exemplo, em paciente em uso de anti-hipertensivos, a conclusão deve comentar sobre controle pressórico sob aquele esquema (adequado ou não)abccardiol.org. Ou, se a indicação era “avaliar síncope”, deve-se dar ênfase a eventuais hipotensões ou bradicardias registradas.
Organize o laudo de forma seccional: Dados do exame, Resultados (médias, cargas, etc.), Interpretação e Conclusão. Use linguagem objetiva, numérica nas partes de resultado, e interpretativa na conclusão.
Exemplos Práticos de Frases Conclusivas
A conclusão é a parte mais lida do laudo, devendo ser clara e sumária. Abaixo, alguns exemplos de frases conclusivas para diferentes cenários, alinhadas às diretrizes:
- Exame normal (normotenso): “Conclusão: Comportamento normal da pressão arterial nas 24 horas. Médias de PA dentro dos limites de normalidade (PA 24h ~125/78 mmHg; vigília 128/80; sono 115/70) com descenso noturno presente (padrão dipper fisiológico). Os achados sugerem controle pressórico adequado e ausência de hipertensão arterial pelo MAPA.”
(Interpretação: Todas as médias abaixo dos pontos de corte; paciente não hipertenso pelo MAPA. Se havia suspeita de hipertensão, isso indica possivelmente efeito do avental branco.) - Hipertensão sustentada (valores elevados): “Conclusão: Comportamento anormal da pressão arterial nas 24h, compatível com hipertensão arterial. Observam-se médias pressóricas elevadas (PA 24h 142/88 mmHg; diurna 145/90; noturna 135/80) excedendo os valores de referênciaabccardiol.org. Houve descenso noturno atenuado (queda de ~5% na PAS; padrão não-dipper). Achados indicam pressão arterial mal controlada no período monitorado.”
(Interpretação: Médias acima do normal tanto de dia quanto à noite – hipertensão confirmada pelo MAPA. Conclusão enfatiza o perfil global e o padrão circadiano alterado.) - Sugestivo de hipertensão do avental branco: “Conclusão: Comportamento pressórico normal nas 24h (médias normais: 124/79 mmHg vigília; 118/68 sono), sem caracterizar hipertensão no MAPA. Esses resultados sugerem efeito do avental branco, considerando que o paciente apresentava níveis elevados em consultório.”
(Interpretação: O MAPA está normal, então explica-se que pode ser HAB. Observação de que não há hipertensão pelo MAPA, apesar de história de PA alta no consultório.) - Sugestivo de hipertensão mascarada: “Conclusão: Comportamento anormal da PA no MAPA, com elevação das médias (PA vigília 138/86 mmHg; 24h 131/82) apesar de valores normotensos em consultório informados. Achados compatíveis com hipertensão mascarada, indicando necessidade de acompanhamento e controle terapêutico mesmo com PA de consultório normal.”
(Interpretação: O MAPA revelou hipertensão oculta. A conclusão liga os dados do MAPA com o fato de que em consultório era normal, nomeando hipertensão mascarada.) - Avaliação de tratamento (exemplo): “Conclusão: Monitorização de 24h em paciente em uso de anti-hipertensivos mostra controle pressórico inadequado. Persistem níveis elevados particularmente no período da manhã (média matinal 140/90) sugerindo necessidade de ajuste terapêutico. Não houve descenso noturno (padrão não-dipper).”
(Interpretação: Direcionado para dizer se o tratamento em curso está controlando ou não. Nesse caso, não.)
Cada conclusão deve ser personalizada ao paciente e à indicação do exame, mas mantendo essa estrutura: primeiro afirmar se o padrão geral foi normal ou anormal; em seguida detalhar brevemente os achados principais (médias altas/baixas, dipper ou não, etc.); e por fim, conectar isso ao contexto clínico (diagnóstico de hipertensão, controle do tratamento, suspeita de HAB/HM, etc.). Lembre-se de usar termos claros e evitar ambiguidades. Se o laudo for extenso, a conclusão deve se manter concisa e destacada.
Quando o Exame é Inconclusivo e Deve ser Repetido
Em algumas circunstâncias, o laudo não poderá trazer uma conclusão confiável devido a problemas na realização do exame. Nesses casos, considera-se o MAPA inconclusivo, e a repetição do exame é indicada. Situações que se enquadram nisso incluem:
- Insuficiência de medidas válidas: Conforme citado, menos de 16 medidas diurnas ou 8 noturnas válidas tornam a amostragem muito limitadaabccardiol.org. Um número tão baixo de leituras dificilmente representa corretamente o perfil pressórico de 24h, portanto o resultado não é fidedigno.
- Falha técnica ou artefatos excessivos: Se o aparelho apresentou defeito, desligou, ou se mais de 20% das medidas foram perdidas/invalidas, o registro é considerado tecnicamente falhoabccardiol.org. Por exemplo, várias horas sem nenhuma medição registrada, ou valores claramente errôneos por movimentação excessiva, invalidam a análise.
- Não adesão do paciente: Caso o paciente tenha removido o manguito por longos períodos, não seguido as orientações (por ex., manteve o braço dobrado impedindo medições) ou não tenha preenchido nenhum dado no diário, o exame perde muita informação contextual. Nessa situação, vale reeducar o paciente e repetir o exame com melhor orientação.
- Interferências significativas: Situações atípicas no dia do exame que fujam completamente da rotina do paciente (ex.: estresse extremo, uso inadvertido de medicação diferente, noite de insônia completa) podem tornar aquele registro não representativo do dia a dia usual. Se a interpretação ficar comprometida por esses fatores, pode-se considerar repetir em outro dia mais típico.
- Resultado duvidoso ou limítrofe sem clareza diagnóstica: Se o MAPA veio borderline (próximo aos limites de normalidade) e a conclusão quanto à presença ou não de hipertensão ficou incerta – especialmente se há alta suspeita clínica –, uma repetição ou um método complementar (como Monitorização Residencial da Pressão – MRPA) pode ser útil. Embora não haja um critério rígido de quando repetir por resultado limítrofe, o médico deve julgar se um segundo MAPA ajudaria a confirmar ou refutar um achado inicial.
Ao constatar um exame inconclusivo, explique no laudo o porquê. Por exemplo: “Exame de MAPA com número insuficiente de leituras válidas, não permitindo análise confiável dos níveis de PA. Recomenda-se repetir o exame.” Isso justifica a ausência de conclusão diagnóstica. Conforme protocolo, a equipe técnica já deve ter informado o paciente sobre a necessidade de repetição assim que verificou a baixa qualidade na devolução do aparelhoabccardiol.org.
Em síntese, não force uma interpretação se os dados não sustentam: é preferível declarar o exame inválido/inadequado e repetir, do que emitir um laudo potencialmente enganoso. A qualidade vem em primeiro lugar – um laudo bem fundamentado depende de um registro válido. Seguindo as diretrizes de qualidade e orientando corretamente o paciente, minimizamos a chance de exames inconclusivos. Se ainda assim ocorrer, repetir o MAPA (após corrigir os problemas identificados) é o próximo passo apropriado para obter a informação necessária com segurança.
Referências: As recomendações e valores apresentados baseiam-se nas 6ª Diretrizes de Monitorização Ambulatorial da Pressão Arterial e 4ª Diretrizes de Monitorização Residencial da Pressão Arterial da SBCabccardiol.orgabccardiol.org, bem como na Diretriz Brasileira de Hipertensão Arterial – 2020pmc.ncbi.nlm.nih.govpmc.ncbi.nlm.nih.gov, entre outros documentos oficiais mencionados ao longo do texto. Essas diretrizes fornecem o embasamento científico para a padronização do laudo de MAPA, garantindo que sua elaboração seja consistente com as melhores práticas nacionais.