É fato que níveis baixos de testosterona estão diretamente correlacionados a uma série de distúrbios, como, por exemplo, síndrome metabólica, obesidade visceral e redução de massa muscular. A partir disso, a população com hipogonadismo rotineiramente apresenta também um maior risco cardiovascular (RCV).
Associado a esse cenário, existe um grande misticismo em relação à utilização de testosterona gerar um aumento do risco cardiovascular. Sendo assim, surge a questão:
A reposição de testosterona é segura em relação ao RCV? E mais, ela é capaz de aumentar ou diminuir esse risco em determinadas populações?
Foi a essas perguntas que uma meta-análise publicada em 2018, na revista International Society for Sexual Medicine, tentou nos responder.
O grupo de pesquisadores, após extensa análise, avaliou um total de 15 estudos farmacoepidemiológicos e 93 estudos randomizados, chegando a algumas conclusões interessantes.
Ao se avaliar exclusivamente os estudos farmacoepidemiológicos, chegamos à conclusão de que a reposição de testosterona não seria apenas segura, mas também seria capaz de reduzir a mortalidade geral e morbidade cardiovascular.
Ao avaliarem os estudos randomizados, a conclusão foi similar, mostrando que a reposição de testosterona é sim segura em relação ao risco cardiovascular. Entretanto, ela não se mostrou como fator protetor na população em geral.
Esse achado é corroborado por um estudo recente do NEJM, randomizado e duplo cego, envolvendo 5246 homens com hipogonadismo e alto risco de doença cardiovascular, que examinou a segurança cardiovascular da terapia de reposição de testosterona.
Os participantes receberam gel de testosterona ou placebo, com o objetivo principal de avaliar eventos cardiovasculares maiores. O tratamento médio foi de aproximadamente 22 meses, com seguimento médio de 33 meses. Os resultados mostraram que a terapia com testosterona não interferiu de com significância estatística no risco cardiovascular, sugerindo que a reposição de testosterona é sim segura, mas possivelmente não é capaz de diminuir risco cardiovascular, ao menos, em paciente com alto risco.
Entretanto, um ponto interessante deve ser relatado. Ao se avaliar a segurança do uso crônico de níveis suprafisiológicos de testosterona, foi encontrado um aumento de risco cardiovascular. Sendo assim, a sobredosagem de testosterona deve ser cuidadosamente evitada, especialmente em populações de maior RCV.
Referências
DOI: 10.1016/j.jsxm.2018.04.641
DOI: 10.1056/NEJMoa2215025