Essa é uma frase que toda mulher já escutou em algum momento! Entretanto, será que isso realmente ocorre? E se ocorre, quais são as razões para esse tipo de acontecimento?
Para entendermos isso, primeiramente eu preciso te explicar quais substâncias podem fazer parte de um anticoncepcional oral combinado (ACO). Esse tipo de medicamente possui um estrogênio, geralmente o Etinilestradiol (EE), acompanhado de uma progestina. Essa progestina é rotineiramente sintetizada pela indústria farmacêutica a partir de 3 substratos principais: Testosterona, Progesterona e Aldosterona, sendo assim, existem diversas combinações de progestinas que podem acompanhar o EE.
E é especialmente por conta disso que os efeitos colaterais podem variar tanto de um anticoncepcional para outro. Teoricamente, o EE possui um certo potencial glicocorticoide, auxiliando na retenção líquida e potencialmente gerando um leve aumento de peso. Entretanto, as progestinas, podem possuir os efeitos mais variados, atuando desde com um potencial androgênico, antiandrogênico, glicocorticoide a até mesmo uma ação antimineralocorticoide. Esse último, em teoria, auxiliaria inclusive na diminuição da retenção líquida, gerando em certo grau, perca de peso.
Após essa introdução baseada no mecanismo teórico, vamos para os estudos que avaliam o desfecho clínico desse tipo de medicação.
Uma metanálise realizada por Maria Gallo e sua equipe avaliou estudos comparando mais de 52 métodos contraceptivos distintos e sua correlação com o peso. A conclusão do estudo foi que nenhum grande efeito dos ACOs sobre o peso, foi evidente.
Quando analisamos subpopulações, como mulheres obesas, ou mesmo atletas por exemplo, os resultados são similares. Estudos duplo cego e randomizados realizados nessas subpopulações nos mostram que EE associado a Levonorgestrel não atuam na mudança de peso, composição corporal ou alteração de desempenho físico dessas mulheres.
Por outro lado, existem evidências que certos anticoncepcionais podem sim interferir de forma leve no peso. Um estudo comparando a utilização de ACO com EE associado a Drospirenona (DRSP) vs Acetato de Clormadinona (CMA) mostrou que as mulheres que usaram CMA ganharam em média 1 kg e as que usaram DRSP perderam em média 0,4 kg após 6 semanas. Essa diferença em relação ao peso inicial pode ser dar devido a DRSP possuir uma ação antimineralocorticoide, a qual provavelmente auxiliou na diminuição da retenção líquida. Já o CMA possui ação inversa, aumentando a retenção líquida.
A partir do apresentado, concluímos que em geral, ACO não está relacionado ao aumento de peso. Entretanto, é provável que certas medicações possam contribuir sim com aumento leve do peso, enquanto outras podem inclusive em certo grau contribuir com a sua redução. Sendo assim, torna-se claro que o mais adequado é escolha conjunta entre médico e paciente pela melhor combinação de ACO, a fim de se alcançar o resultado esperado com um menor nível de colaterais.
Referências
DOI: 10.1089/jwh.2012.4241
10.1002/14651858.cd003987.pub5
doi:10.1055/a-0985-4373
https://doi.org/10.1080/13625187.2019.1688290